domingo, 27 de fevereiro de 2011

Alguma vez teve a sensação de ser um CRONÓPIO?

 

O escritor Cortázar disse que cronópios são atingidos por pequenos acontecimentos, “quando vão viajar o trem já saiu...”

Você não tem a impressão de que sempre chove quando lava o carro; o dia mais bonito e ensolarado para curtir a praia é  aquele dia no qual terminam as férias; a fila mais lenta do mercado é a que você escolheu; no cinema a pessoa mais alta fica sentada na fileira da frente, bem diante de sua poltrona; nas reuniões de trabalho sempre algúm colega é chamado para discursar antes que você, e ele fala exatamente o que você pensava falar; quando vai ao centro da cidade, nunca encontra um bom lugar para estacionar; e no momento que decide fazer um sanwiche, precisa correr ao mercado porque acabou o presento...

Bom, tal vez você não tenha todas essas impressões juntas –no mesmo dia – mas, uma vez uma... outra vez , outra...

Sejamos honestos: todos nós em algum momento sentimos que somos cronópios, cronópios, cronópios.

Isabel Furini

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

POESIA EM SALA DE AULA





A sala de aula mudou. Ficou para trás aquele lugar onde as crianças escutavam passivamente os discursos dos professores. Sala de aula é hoje um lugar interativo. A educação do século XXI está voltando à verdadeira origem da palavra. Educar deriva da palavra latina educere – “aquilo que vem de dentro”. Quase um segundo nascimento.

O filósofo Lombardo Radice dizia que não nascemos humanos, tornamo-nos humanos com o processo de educação. E o verdadeiro ser humano é aquele que educa a si mesmo. Por isso, os professores precisam de acuidade estética para despertar o gosto pela arte nos educandos e guiá-los para assumirem o processo de constante autoeducação.

Uma experiência muito interessante é diversificar as aulas. Torná-las mais dinâmicas. Vivas. Vejamos as aulas de poesia. Podem acordar o lado poético dos educandos. A poesia era muito apreciada pelos gregos, eles valorizavam o poético como enigma, como verdade mítica. Em grego, Poiesis significa produzir, fazer. Hoje pode resultar estranho o sentido desse termo, pois a poesia é considerada “improdutiva” pela sociedade de consumo. Mas, para os gregos, a poesia produzia uma realidade diferente da objetiva. Para eles a poesia estava unida a uma realidade mítica (dando ao mito seu sentido original).

Uma verdade mítica é aquela que nunca foi, mas que sempre é. Pode parecer um paradoxo, mas o mito não é uma verdade histórica, é algo que sempre acontece, como o Complexo de Narciso e o Complexo de Édipo, tão falados em psicologia, baseados na mitologia grega. Esses fatos nunca aconteceram da maneira exata como foram narrados, mas podem existir sempre. Existiram, existem e existirão pessoas narcisistas, ou seja, o mito de Narciso é uma verdade que ultrapassa épocas.

Assim é a poesia: uma realidade diferente. Toca as cordas da alma, desperta a sensibilidade estética e ajuda a compreender a filosofia. A poesia nos leva pelo caminho da palavra e das ideias. Geralmente consideramos três tipos de poemas: lírico, dramático e épico. O lírico possui ritmo e musicalidade e está relacionado à música. O dramático corresponde à fala através de diálogos em conflitos interiores ou sociais e está relacionado ao teatro. Já o épico refere-se a batalhas e guerras. COMO ENSINAR POESIA PARA CRIANÇAS?

As aulas de poesia para crianças devem ser lúdicas. Será necessário fazer ênfase nos efeitos de sonoridade, de cores, de imagens, de movimento. O importante é que a criança inicie o processo sem limitações, sem bloqueios. Paradigmas rígidos tolhem a criatividade. O professor deverá ser paciente, pois nem todos os alunos terão habilidade poética. A finalidade das aulas não é formar poetas, mas despertar o espírito poético. Orientar os alunos para que possam perceber a poesia e (para que possam também) exprimir o sentido estético que os ajudará a crescerem como seres humanos, a realizarem-se como pessoas.

A poesia para crianças pode começar com “jogo de palavras”. O educador coloca uma lista de palavras que possam rimar e deixa que os alunos escolham livremente.

Por exemplo: Arminho – Burburinho – Carinho – Adivinho – Ninho – Cozinho – Pergaminho - Espinho - Padrinho – Cavaquinho - Passarinho – Sobrinho – Alinho – Anjinho – Armarinho - Engatinho – Desalinho – Marinho - Moinho – Pinho – Focinho – Colarinho.

Ainda que os trabalhos sejam simples como: “O gatinho pisou um espinho”, ou: “O passarinho está no ninho”, o professor não julgará os poemas, só estimulará a produção poética. Aos poucos, as crianças vão se encantando com a sonoridade das rimas e com a possibilidade de criar poemas. O educador precisará de muita paciência e de bom humor. Quando eu era estudante, um professor de matemática, ainda jovem, mas careca, solicitou aos alunos que escrevessem o que achavam dele como professor. Alguns colocaram elogios, outros criticaram. Mas teve um aluno que escreveu: “Céu sem nuvens / ninho sem pássaros / cabeça sem cabelo”.

Os colegas riram, o professor ficou zangado e o criativo poeta foi encaminhado à diretoria. Mas não podemos negar que ele foi criativo.

A poesia contribui para estimular a criatividade, ajuda na aquisição da linguagem, enriquece o vocabulário, contribui para aumentar a sensibilidade estética, exterioriza emoções, além de desenvolver a capacidade de leitura e compreensão. EXERCÍCIOS – PRIMEIRA AULA: SENSIBILIZAR

A primeira aula deve ser quase uma brincadeira. O educador pode começar com a leitura de um poema livre ou trova. Imediatamente escreve no quadro e faz com que as crianças leiam em coro duas ou três vezes. Os alunos copiam o poema no caderno. Depois o professor assinalará algumas palavras do poema e solicitará às crianças que procurarem sinônimos ou antônimos, ou palavras que possam substituir a palavra assinalada. Ou ele mesmo proporcionará uma lista de sinônimos, antônimos e palavras afins para que as crianças utilizem as palavras de que mais gostem. Não se preocupar com aspectos teóricos como métrica.

O tom será de divertimento para que as crianças se aproximem da poesia sem medo e sem bloqueios. Nesse primeiro momento, o importante é que elas se aproximem do poema. Que apreciem a sonoridade.

Por exemplo: o professor pode trabalhar o poema da página 33 do livro “O Dr. Pingüim e a Mensagem de Santo Agostinho”, de minha autoria (escolhi um poema de minha autoria porque é preciso autorização escrita para colocar poemas de outros autores).

A Sucuri é uma cobra muito grande / que só sabe fazer ssssshhhh / A Sucuri é uma cobra muito feia / que só sabe carregar uma lancheira / Ela está nas aulas de Filosofia Mas acha que são aulas de Anatomia.

Trabalhar com algumas palavras do poema. Dar liberdade para que os alunos troquem as palavras que desejem. Por exemplo: sucuri - mudar para outro nome de cobra como Coral, Jararaca, Cascavel, Cobra Cipó; grande - procurar outra palavra como enorme, gigante, poderoso, vasto, etc., ou antônimos: pequena, mínima, anã, nanica; carregar - levar, transportar, assegurar, sobrecarregar; Anatomia - o aluno pode colocar outras matérias como Geografia, Biologia, Aritmética, etc. SEGUNDA AULA: PERCEPÇÃO

É muito importante treinar o olhar poético das crianças. Peça aos alunos que olhem pela janela. Como está o céu? Tem nuvens? Tem sol? Chove? Tem vento? Da janela dá para ver uma árvore? Um passarinho? Um inseto?

Solicitar que escrevam a experiência em um poema pequeno de duas ou de três linhas. Não exigir métrica. Depois, falar para as crianças que observem a natureza todos os dias e, se sentirem vontade, que escrevam poemas. O importante não é só escrever um poema, mas adquirir o pensar poético, a visão poética da vida. A mente se abre para a beleza, e isso também é poesia.

É importante solicitar que registrem, no mínimo, uma vez na semana, em três linhas curtas, o que eles observarem. Devem só falar do que viram, mas sem dizer: eu acho, eu vi, eu percebi, porque...

Repetimos que o propósito não é só inventar um poema, mas adquirir o pensar poético, a visão poética da vida, despertar a sensibilidade estética.

Isabel Furini é autora da coleção “Corujinha e os Filósofos”, da editora Bolsa Nacional do Livro, de Curitiba.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Lançamento livro "A Sacerdotisa do Sexo"


Enoli Lara foi atriz, modelo e artista plástica. Ela foi batizada de "bunda pensante" nos anos 80 e agora esta lançando o livro [i]'Trilogia do Prazer – A Sacerdotisa do Sexo', (ed. Nova Razão Cultural).[/i] O lançamento será em 24 de fevereiro, na Livraria do Café, no Shopping da Gávea. Esse livro vai incomodar muita gente, pois Enoli conta suas aventuras com pessoas famosas e até com um membro da igreja. [i]"Fui iniciada por um padre. Era muito criança. Eu brincava de médico e já gostava..."[/i] Enfim, quem tiver interesse em fofocas e em conhecer detalhes da vida alheia ficará entusiasmado com 'Trilogia do Prazer – A Sacerdotisa do Sexo', pois Enoli promete revelar o seu passado "quente", e com detalhes.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O PAPEL DA LITERATURA


O papel da literatura na vida social é muito importante e atinge de maneiras diversas pessoas com temperamentos diferentes e de profissões diferentes. Além da função estética (arte da palavra e expressão do belo), uma obra literária pode ter várias funções.

Entre elas podemos citar, a função lúdica (divertimento), a função cognitiva (forma de conhecimento de uma realidade objetiva ou psicológica), a função filosófica (questionar, provocar o leitor); a função catártica (que é muito importante, entendendo catarse a purificação de sentimentos, como o próprio Aristóteles falava ou, simplesmente, a libertação de emoções reprimidas) e a função pragmática (pregação de uma maneira de viver).

Não podemos esquecer que no Quixote de la Mancha, o protagonista enlouquece lendo novelas de cavalaria. Ou seja, a literatura pode modificar a maneira de ver o mundo do leitor.


Isabel Furini é autora de "O Livro do Escritor".

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

!!! (Pontos de exclamação - poema de Isabel Furini)

É preciso abolir a paixão!...
Não grite,
não exclame,
não conclame,
não derrame a emoção entre as letras!!!

Enfatizar o drama? Não!
É melhor ocultá-lo.

Os !!! são enfáticos demais,
expressam admiração, surpresa, medo
assombro, indignação, raiva, paixão e desespero.
Quem deseja emoções no vespeiro
do moderno mundo globalizado?

O imperativo é logo descartado,
bom mesmo, é ser falso ou persuasivo.
Ah! meu querido !!! serás banido!
Extinto como um vulcão sem fogo.

Tu és emoção que dramatiza,
súbita comoção já destronada.
O mundo não tem mais lugar para a paixão
o subjetivo cede lugar ao objetivo,
e as estratégias não admitem
pausa para pensar nem para refletir.

Refletir,pensar!!!
Pensar, meu amigo, é quase palavrão
nesta aldeia global em que vivemos.
Colocar !!! é como semear flores
em um jardim sem paixão e sem amores...

O sonho, o drama, o ingênuo e tu, chamado !!!
(ponto de exclamação)
serão suprimidos,
triturados,
extintos como dinossauros.
Amigo ! Já é hora de dormir no labirinto do Minotauro,
e talvez acordar depois de anos
para falar ao homem
que o instante de emoção deve ser pontuado!!!
Pontuado!!! Pontuado!!!

E termino meu poema com teu símbolo!!!
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Isabel Furini

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O CONSELHO LITERÁRIO DE CAMILA FAMOSA (Conto)

– O conselho da escritora Camila Famosa foi não escrever com compulsão – afirmei com voz autoritária.

– E como faço? Perguntou o homem tirando os óculos e colocando-os sobre a mesa escura perto de um livro aberto, à direita do copo com refrigerante.

– Eu faço tudo de maneira compulsiva, falo compulsivamente, fumo compulsivamente, até transo compulsivamente, mas, não quero que espalhe essa última informação, hein?... pois odiaria ver mulheres me perseguindo para constatar se é verdade – a verdade é que sou um amante à moda antiga, eu gosto de paquerar mulheres e não gosto mesmo de mulheres tentando me paquerar.
Penteou o cabelo com dedos da mão direita, levantou a cabeça e recolheu o queixo de maneira vaidosa e começou a cantar:

“Eu sou aquele amante à moda antiga
do tipo que ainda manda flores
e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreveeeee...
porque no peito ainda abriga
Recordações de seus grandes amores...”


Além de modificar a letra, como ele cantava mal! Sua voz era rouca. Eu fiz um gesto de desaprovação mexendo a cabeça várias vezes para um lado e para o outro horizontalmente.

Ele tussiu ou fingiu tosser, retrocedeu alguns passos, sentou-se na cadeira de madeira e disse:

– Bem, continuando, eu sou obsessivo compulsivo e se eu não escrever por compulsão e de maneira compulsiva, eu não consigo. Sem compulsão não consigo fazer nada. Imaginem fazendo sexo sem compulsão, eu vou broxar, céus! E tentar escrever assim de fininho, como quem não sabe de nada, não sei, não! Mas sem paixão, sem obsessão, sem compulsão, Nossa Senhora! Isso não será texto, será página em branco. Algo me compele a colocar traços desiguais nas páginas, eu escrevo à caneta, nada de computador, nem modernidades. Já falei, sou um amante à moda antiga. Gosto de papel de verdade, papel no qual seja possível escrever, apagar com borracha, reescrever, riscar, colocar “x” ao lado de frases interessantes, sublinhar, dobrar o canto superior direito da folha, fazer anotações, ou pequenos desenhos nas margens e guardar nas estantes, nas gavetas, embaixo da cama, ou rasgar e jogar de longe no cesto de papéis gritando: Goooollll! Eu sou o melhor!!!

Levantou-se da cadeira. Parecia emocionado.

– E o que acha de deixar a mente em branco para escrever, não pensar em nada? - insisti eu fingindo indiferença.

– Acho bom, muito bom, para quem conseguir. Eu não consigo cara, eu preciso pensar, imaginar, observar os personagens pela fresta da fantasia, e falar deles, falar, falar, falar... ou melhor dito, escrever, escrever, escrever. Que escrevam sem compulsão os grandes literatos, os escritores calmos e disciplinados. Eu não. Minha obsessão é escrever. De manhã, à tarde, à noite. Eu gosto de escrever e odeio escrever. Por isso escrevo. Escrever é emoção – ou emoções. Quase um ritual de morte e renascimento. Quase um bater de asas de morcego na noite.

Olhei-o fixamente. – Você não faria a experiência por uma semana? – Perguntei com voz suave.

O escritor não respondeu, mas retrocedeu e voltou a sentar-se na mesma cadeira de madeira.

– Só por uma semana, escrever sem pensar, o que acha? Seguir o conselho de Camila Famosa?
Ele, vencido, fez um sinal de afirmação com a cabeça. Imediatamente seus olhos fugiram pela janela, rumo à rua poluída de carros.

Uma semana depois entrei em sua biblioteca. Ele estava sentado diante do computador, calmo. Sorridente. Você conseguiu? perguntei.

– Escrever sem pensar?

– Isso.

– Consegui, sim – murmurou.

Aproximei-me para ler no computador o que havia escrito e dizia: “escrever sem pensar, escrever sem pensar, escrever sem pensar”.... fui para a outra página: “escrever sem pensar, escrever sem pensar, escrever...”

– Você repetiu milhares de vezes a mesma frase! ­Gritei.

– Mas não pensei, retrucou ele, não pensei em nada. Eu escrevi. Diga essa verdade para Camila
Famosa: Mente em branco é para escritores autocontrolados. Muitas vozes é o caminho para escritores com múltiplas personalidades. Ser perseguido pelos próprios personagens é para escritores paranóicos, já escrever compulsiva, obsessivamente é para mim. Fazer o quê? Obsessão é destino.

Isabel Furini
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