domingo, 27 de julho de 2008

AMOR OU VANTANGENS???

Sempre achei estranho relacionamento amoroso entre maturidade e juventude. Talvez com o tempo se imponha com força, e seja comum ouvir conversas como estas: “Estou despontada. Meu namorado é mais velho que o namorado de minha mãe” ou “ A namorada de meu avô é mais jovem que eu”. Não sei a opinião do leitor, nem sou totalmente contra... às vezes dá certo. Conheço pessoalmente no mínimo dois casais nessa situação e são muito felizes. Se formos observadores veremos que geralmente – nem sempre, mas geralmente - o mais velho tem estabilidade econômica; grande atrativo para os mais novos. Você já refletiu sobre o passo dos anos?.. Aos 15 anos de idade a gente veste roupa tamanho P, depois vai passando para o M, imediatamente vêm o G, então é preciso o GG... depois do GG vem a cirurgia de estômago. Os anos nos deixam lentos para a ginástica, mas rápidos para o garfo. Parece que a gente vai se aperfeiçoando na arte do gourmet. Comida preenche o estômago e preenche o medo da solidão, medo do fracasso, medo do dentista... enfim comida é um preenchimento natural de estados emotivos variados. Tudo isso é para dizer que apesar de não ser rica, não conheço educador rico, e ainda estou fora de forma, mesmo assim eu fui almejada por um desses conquistadores de mulheres da maturidade. Em março, eu estava concluindo a primeira aula da Oficina de Redação que ministro no Solar do Rosário, em Curitiba, quando se aproximou um jovem bonitão. Aproximadamente 25 anos, cabelo preto, brilhante, propositadamente despenteado, barba sem fazer, o que lhe acrescia um encanto extra, além de contrastar com suas roupas, com camiseta vermelha e jean de griffe. Com um sorriso de ator premiado em Hollywood, apresentou-se dizendo que queria escrever um livro e necessitava de orientações. A conversa colou, porque amo falar sobre o tema, quando o rapaz lançou o anzol para ver se havia peixe no rio, não peixe-boi, mas peixe-burro: “professora, o que acha de nos encontrarmos outro dia para tomar um drink e falar mais sobre o assunto”. Sua intenção ficou mais exposta que joelho de escoteiro. Era isso! Pensei. Ele quer consultoria literária de graça. Que gracinha!.. Seu safado!... Sorri e falei: Claro, podemos sair, levarei meus filhos que tem sua idade, assim poderão falar de futebol e de garotas... O sorriso amarelo do rapaz demonstrou que havia entendido o recado. Por um instante os ombros desceram e pareceu abatido. Mas se recompus imediatamente e se despediu com um sorriso lindo, um sorriso de dar inveja aos atores de Hollywood. Talvez o recado dele fosse: “Veja a beleza que perdeu, sua coroa”. Eu saí da sala de aula cantarolando. Sentia-me uma coroa feliz. É muito bom saber que a gente envelhece sem ficar caduco. E na atualidade, onde as pessoas têm tendência a viver mais do que antigamente, o mais importante é sentir que se não podemos evitar envelhecer, pelo menos está em nosso poder manter o bom senso.

sábado, 19 de julho de 2008

SAUDADE (O GRANDE AMOR DE ROBERTO)

Fotografia e edição de Isabel Furini


Chuva intensa. Volto a Curitiba depois de 30 anos. Os relógios pararam no tempo. Meu coração se espalha pelas ruas e sobe pelos edifícios modernos procurando o passado.

O passado morreu. Só ficaram lembranças. Meu coração persistente, achatado, esticado, dilacerado, busca meus amigos, a cidade que foi minha...

Procuro até meu próprio rosto no espelho. O espelho mostra a verdade: os cabelos brancos. Cabelos não mentem, podem ser pintado mas voltam a crescer e a mostrar o passo do tempo. Tempo rápido, vagaroso, intenso, morno, indeciso. Tempo que cresce com as árvores e decresce com os prédios que envelhecem. Tempo que se esgota a si mesmo, que avança sem pressa mas que é impossível deter.

Meu coração de homem aventureiro estica seus olhos vermelhos pelas praças: Tiradentes, Osório, Rui Barbosa. Espiona nos shopping e nos cafés inaugurados há pouco tempo e se reencontra no Largo da Ordem e no Passeio Público. Tenho 51 anos, nasci nesta cidade num mês de setembro e também chovia. A chuva de Curitiba lava as casas, limpa as ruas, purifica as almas, grita nos telhados, ri espalhando-se pelos vidros dos carros. É uma chuva sapeca, como meus anos de criança.Já se foram os anos das alegrias simples.

Sinto-me velho, acho que tenho mais anos que a cidade. Onde está Taisha, meu grande amor? Onde está Taisha com seus olhos de amêndoas orientais e seu olhar tranqüilo de japonês sábio que olha o monte Fuji? Onde está minha linda namoradinha filha de brasileira e japonês, que estudava comigo no Belas Artes e sonhava com renovar a pintura moderna?

Uma manhã, enquanto pintava uma tela do Paço Municipal, disse-me:
— Roberto... Gosto de Renoir, gosto de Monet, gosto de Picasso, mas acho que posso ser igual a qualquer deles, igual a quem eu quiser...Fez uma pausa.— Até posso ser igual a mim mesma! — exclamou deixando de lado o pincel. Colocou as mãos na cintura e levantou a cabeça de forma arrogante, mas com um sorriso sapeca.

Menina de coração de mel e roupa preta, nunca esqueci teu sorriso. Teu riso iluminava as cores de teus quadros. Nunca esqueci tua atitude numa exposição de um pintor questionado — pois com seu modernismo chocava a moral provinciana da Curitiba dos anos 70. Você, num gesto de desafio, abriu a bolsa preta, pegou o batom vermelho e escreveu em português: "Exposição para loucos". Eu gostei. Assinou Taisha em caracteres japoneses. Era essa mistura de Oriente e Ocidente que fazia de você uma flor exótica e delicada.

Taisha, os teus olhos orientais sempre me seguiram pelo mundo afora. Estiveram diante de mim em Paris observando a torre Eiffel, descobriram comigo os mistérios celtas em Stonehenge, contemplaram o ocaso em Machu Picchu. Teus olhos negros, orientais, navegaram comigo pelos oceanos Atlântico e Pacífico.
Doe a saudade.

Onde estará minha menina sensível e rebelde? Minha flor de cerejeira.Sento-me sob uma árvore nas ruínas de São Francisco. Abro minha mala de viagem, pego uma folha de papel e com lápis de cores, desenho o relógio das Flores com o encanto de teu sorriso.

Crônica de Isabel Furini

Passeio Público de Curitiba - Foto e edição de IsabeFurini

O POETA (por Isabel Furini)

O POETA 


Sonha com poemas e acorda na noite, 
escrevendo com os dedos versos no ar. 

Adora navegar sobre ondas de folhas em branco,
velejar nos cadernos novos, 
pular sobre areias de palavras,
correr na praia procurando o Verbo.

Livros, cadernos, papéis e mais papéis... 
Continua a lutar com ondas indomáveis, 
organiza os termos, 
mas só ancora no oceano dos sentimentos. 

Nesse instante, o poeta compreende 
o poder do caos primordial.

Isabel Furini

 “O Poeta” conquistou 1º lugar no Concurso de Poesia de São José dos Pinhais, PR, em 2002. Escolhido para o Projeto Leitura no Metro de Belo Horizonte (MG) parceria entre o Programa da A tela e o texto da UFMG e a CBTU - Companhia Brasileira de Trens Urbanos. A MAGIA DO POETA Serpenteiam os versos de Quintana... Caravanas de Poemas batem à porta do poeta, tangem liras,cata-ventos... lâmpadas dilaceram a escuridãodos pensamentos. Espelho mágico reflete o aprendiz de feiticeiro. Versos... infinitos versos acenam, entoam canções. O poeta dança, dança... Sombras começam a rir na escuridão. Os versos flutuam ao luar e desenham diadema de diamantes na testa do poeta. Poeta? Epigramático? Dono de infinitos roteiros de mármore e obsidiana. Serpenteiam os versos de Quintana!.. Este poema recebeu Menção Especial do Concurso Mário Quintana de Friburgo, RJ. 2006. Os trabalhos de Isabel Furini também receberam o Prêmio Missões de Poesia Internacional de Roque Gonzalo, RS, em 2005, 1°lugar com o poema El Grito. Menção Honrosa no Concurso de Contos Paulo Leminski, da UNIOESTE, Toledo , PR, em 2002 e 2007. Menção Honrosa no Varal de Poesia da FAMMA, Maringá, 2007. Menção Honrosa no Concurso de Contos da Prefeitura de Niterói, 2008. Menção Honrosa no Concurso de Poesia da Academia de Letras de Niterói, 2008;
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...