segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O vento - poema de Isabel Furini

O vento


O vento da vida
açoita a xícara de chá

a colher invade o chá de alecrim
enquanto as lembranças
coreografam emoções
sobre as antigas fotografias
das paredes

 Isabel Furini 



sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A VIDA I- Poema de Isabel Furini

O livro "O jogo da amarelinha" (Rayuela), de Cortázar, foi analisado por vários críticos como uma metáfora da vida.
Li e gostei dessa frase de Edna Frigato: "A vida é como um jogo de amarelinha: pule tudo que nada acrescenta; só faça casa nas coisas que reavivam o brilho do seu olhar." Site Pensador.



A VIDA I

 
rapidez nos pés
e na alma

sorrir e pular
longe das linhas
pular e amar
e pegar a pedra
e sonhar

pular e soltar a pedra
e as mágoas
pular e rir e chorar

a vida é  jogo da amarelinha.

Isabel Furini


A VIDA II

A vida é jogoe
exige
refletir com liberdade
e deixar de lado as picuinhas

porque passam as modinhas
e ficamos sozinhos
sob a sombrinha
dos nossos pensamentos

o ser humano primeiro engatinha
depois caminha
e por último aprende
que a vida é jogo da amarelhinha.

Isabel Furini

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

O signo de Leão (Poema de Isabel Furini)


A majestade do leão
é um segredo guardado
no poço da emoção

esse segredo é revelado
quando é vencido o medo
e o leonino (feito rochedo)
age com dignidade
pois sempre tem majestade
quem tem um nobre coração.

Isabel Furini

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Relógios e Fantasmas (Poema de Isabel Furini)

RELÓGIOS E FANTASMAS

Trilhos escondidos
nos paralelepípedos do passado

o ontem é um terreno fértil
para lembranças
e para memórias imaginárias

no nevoeiro gritam os fantasmas
e dançam
entre as agulhas dos relógios

aconteceu ou sonhei? - pergunta
um idoso e o fantasma responde
- Viver é sonhar

sem sentir culpa
o idoso sonha
brinca com as ilusões
e reinventa o seu passado.

Isabel Furini

Quadro de Carlos Zemek

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Os Olhos da Caveira - Poema de Isabel Furini


OS OLHOS DA CAVEIRA

uma antiga caveira protegida
por uma máscara de cobre
observava um morto que permanecia aflito
ele não havia encontrado o caminho do amor
nem havia conseguido superar o rancor
e só enxergava os monstros do passado

a caveira  emprestou os seus olhos
(cravejados de esmeraldas)
ao morto
para que ele desviara o olhar
dos acontecimentos do passado
e em vez de ver monstros
e ouvir os seus gritos
fosse capaz de enxergar o infinito.

Isabel Furini

Arte digital de Isabel Furini

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A Casa do Palhaço - Poema de Isabel Furini


A casa do palhaço
é de tijolos,
não é de aço.

A casa é aconchegante,
e na parede
ninguém pintou um elefante.

Mas o dono da casa
tem um amigaço
que pintou o rosto do palhaço.

Isabel Furini

Foto e edição de Carlos Zemei - Desenho de Palhaço de Vanice Zimerman

Quantos? - Poema de Isabel Furini




QUANTOS?

Quantos universos
dormem
na caneta
do poeta?

Isabel Furini

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Águas Rasas (Poema de Isabel Furini)





ÁGUAS RASAS

Na constante urdidura
do caráter
permanece uma estranha sensação
:
a alma está ausente
nas sociedades civilizadas

a vida humana
(essa ponte sobre as águas do devir)
adquiriu caráter adquisitivo
- a humanidade navega em águas rasas

guerras e mentiras cruéis
solidão e pranto
- as silenciosas sombras da noite sobre o mundo

os valores humanos naufragam
e o valor de um homem é medido
pelo caráter? não!

nesta época extraordinária
o valor de um homem
é medido pelos bens ou pela conta bancária.

Isabel Furini

Somos ou não somos? Poema de Isabel Furini


SOMOS OU NÃO SOMOS?

Por que amaldiçoar os fantasmas
que moram no muro das lembranças?

É inoperante imprecar contra os cactus
carrascos das mãos
(das egoístas e das generosas)

por que chorar sobre as horas do passado
dunas do tempo
que avançam sob o vento sem deixar rastro?

Somos e não somos – dizia o filósofo Heráclito
prisioneiros do devir
vivemos criando fábulas
e depois de mortos
até as fábulas são desintegradas

porque somos
mas somos por pouquíssimo tempo
e depois?
não somos, não somos, não somos...

Isabel Furini

Fotografia de Isabel Furini

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Águas do Tempo - de Isabel Furini



ÁGUAS DO TEMPO

Jogar o passado ao mar
sem chorar

para que as águas
purifiquem
e arrastem
as mágoas e os pesadelos
e os dissolvam em mundos paralelos.

Isabel Furini

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Ciclo Poético da Vida - Poema de Isabel Furini


CICLO POÉTICO DA VIDA

os bebês –  balbuciam
as crianças – falam
(crianças poetas – poetizam)

os jovem – debatem
(jovens poetas – poetizam)

os adultos – dialogam
(poetas – poetizam)

os velhos – monologam
(idosos poetas – poetizam)
depois –  o grito e a morte

finalmente
a mensagem da lápide
a lembrança e o silêncio
quebrado
pela leitura de um poema

o poeta poetiza
e as poesias eternizam a voz do poeta.

Isabel Furini
Fotografia de Isabel Furini
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