sexta-feira, 8 de outubro de 2021

A gadanha (Poema de Isabel Furini)

 


A gadanha

Os anjos caídos cuspiram sombras
sobre a árvore de magnólia
refletida em um espelho de metal antigo
um movimento nas luzes projetadas pelo espelho
e os fantasmagóricos  duendes do abismo abrem seus olhos
e riem
e eles atravessaram as paredes que separavam os séculos
e palavras antigas como "pandemia" e "fim do mundo"
renovaram-se com o poder das sombras
e  voltaram a habitar os lábios e estremeceram
gargantas e corações
alguns verbos como viajar tornaram-se proibidos
mas outros verbos como amar e acreditar
foram colocados aos pés do trono de Cronos
e Cronos (matreiro) ergueu a gadanha
e cortou cabeças e triturou pescoços
e ficou sozinho como aquele pedaço de pão velho
que permanece esquecido em um banco de madeira de uma praça
onde alguns mendigos (cansados ​​da vida) matam as horas
enquanto esperam serem mortos pela gadanha impiedosa de Cronos.

Isabel Furini

Esse poema foi publicado na revista Kametza, de Lima, Peru, em Setembro/2021.

"Anjo Caído" de Salvador Dalí


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...