domingo, 28 de abril de 2019

O Anjo ambivalente (Poema de Isabel Furini)




Fotografia de Isabel Furini - Museu Lacma, Los Angeles, Califórnia

O ANJO AMBIVALENTE


Um anjo desceu do lado escuro
da Lua crescente,
e invadiu meu subconsciente
enquanto eu sonhava com as areias do deserto.

Arrebatada perguntei de maneira impertinente:
- Anjo, você acha que no túmulo
acaba a vida como um sol poente?

Sua resposta foi ambivalente:
- Pode ser que a alma continue
ou desapareça no túmulo silente.
Sou um Anjo, nunca esquadrinhei
os meandros da criação divina;
eu não conheço todas as respostas,
mas sou um Anjo e o mundo me fascina.

Depois, apoiou-se no zodíaco de Dendera e falou:
- A vida humana é como uma trilha na selva.
O homem é só um microcosmo e até as paixões
estão escritas com tinta nas estrelas.

São as estrelas as grandes condutoras
deste Universo de papel e fantasia
que ancora sonhos e esperança e amor e ódio e poesia.

É preciso ser um leitor das estrelas muito atento,
perscrutar o céu, contemplar auroras,
compreender os relatos mitológicos,
pensar no zodíaco, nos quadrantes,
analisar as sinastrias e os círculos astrológicos.

É preciso avançar com cautela
(calmamente)
e perseguir o rasto da sincronicidade
entre os gestos humanos e as estrelas.

Isabel Furini




Esse poema foi publicado na revista de poesia Mallarmargnes, em 2015.

4 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...