domingo, 25 de setembro de 2011

O DIA EM QUE ME SENTI UM PERSONAGEM

Quando um livro é publicado de maneira clássica, ou seja, quando o autor envia seu texto a uma editora que “banca” a publicação e encarrega-se de conseguir diagramador, capista, de fazer a correção ortográfica e procurar uma boa gráfica, é comum o autor ganhar alguns livros para presentear a imprensa ou pessoas que sejam consideradas líderes de opinião.

Pois bem, isso aconteceu quando há mais de vinte anos foi publicado um livro infantil de minha autoria chamado “O Prego Nélio”.

Acontece que eu fui doando os exemplares que tinha até ficar sem nenhum. Irritada com meu próprio erro, fui até uma instituição que tinha um exemplar do livro para tirar fotocópias. Minha surpresa foi enorme quando escutei a secretária dizer: “Ninguém pode tirar fotocópias dos livros”.

Mostrei minha identidade e falei:
- Eu sou a autora do livro.
- Mas se fotocopiar o livro, isso seria plágio. - retrucou-me com muita seriedade.
- Eu sou a autora. Acaso irei plagiar o meu próprio livro? - perguntei um pouco confusa, sentindo-me um personagem que havia fugido de alguma crônica do Veríssimo.
- Não pode fotocopiar. - insistiu.
- Eu escrevi esse livro! - gritei.
- Mas o exemplar é nosso e não poderá fotocopiar.

Tive que me resignar e voltar para casa. Por sorte, uma antiga aluna que havia guardado um exemplar tirou fotocópia e teve a delicadeza de ficar com a mesma e presentear-me com o livro do qual sou autora. Mas isso despertou várias reflexões: a primeira sobre a necessidade de guardar um exemplar de qualquer obra de minha autoria; a segunda, de que muitas vezes o zelo administrativo leva a situações absurdas como a que eu havia vivido, e ficou em mim a sensação de que em algumas situações nossa humanidade parece perder-se no mar da ficção. Parecemos um personagem de crônica vivendo uma situação bizarra, e precisamos nos olhar no espelho para reconhecer quem realmente somos.

Crônica de Isabel Furini publicada no ICNews.

6 comentários:

  1. Realmente, tem um livro seu esgotado na praça. Não seria o caso de imprimir uma segunda edição? Um abraço, Yayá.

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    1. Oi, Yayá. Só hoje vi seu comentário. Obrigada, querida. Sim, tem alguns livros de minha autoria que estão esgotados. Vou tentar nova edição deles.

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  2. É... a vida, muitas vezes nos prega alguma peça um tanto instigante: vejo este texto pela ótica do espelho. Houve dia em que me senti uma crônica. Olho-me no espelho, vejo as linhas de expressão, o brilho dos olhos e penso: Meu Deus, este sou eu ou estou vivendo alguma réplica de mim mesmo? Isto é plágio. Realmente vivemos muitas situações bizarras. Grande abraço poético.

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    1. Obrigada pelo comentário. Realmente, a vida apresenta situações bizarras mesmo.

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  3. Olá, Isabel, descobri teu blog e, já sou seguidora. Parabéns pelo teu excelente trabalho literário e em prol da literatura! Nossa, nunca imaginei uma situação dessas! Mas, já tenho vivido "momentos" em que penso e digo: "pensei que já tinha visto de tudo"! Também amo escrever, tenho escrito pensamentos, prosas, poesias e outros textos. Gostaria de receber sugestões sobre títulos para o meu primeiro livro. Escrevo sobre o amor, sobre a vida, o cotidiano. Se for possível, mande-me sugestões de como aprimorar o que escrevo. Também tenho um blog: rosachoqueeoutrascores.blogspot.com Espero tua visita. Desde já, agradeço pela atenção dispensada. Abraços!

    Aparecida Ramos

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    1. Oi, Aparecida. Só hoje vi os comentários... já ha 4 anos. O tempo passa rapidamente. Espero que já tenha publicado seu livro. Forte abraço.

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