segunda-feira, 9 de maio de 2011

FERMENTO QUÍMICO

Fermento em pó!... Isso era o que Joanita precisava para fazer o bolo levantar. Da cozinha, pela porta entreaberta, olhou a sala. Seu marido estava jogado sobre o sofá, assistindo um programa chato. Tomás havia perdido o desejo de viver. E ela... Ela lembrou-se dos primeiros anos de casados. Quase não dormiam. E algumas vizinhas fofoqueiras reclamavam do barulho. Bons tempos. Idos. Agora era só pijama e televisão. Depois deitavam e cada um virava a cabeça para seu lado, bocejos e “até amanhã”.

De repente, o ruído da campainha. Era dona Dulce, a velhinha que morava no andar de baixo, vestia um robe rosa e estava sorridente. - Olhe este fermento – gritou.
- Obrigada, mas eu tenho fermento para o bolo - disse Joanita enquanto passava manteiga à forma.

- Não tem, não... – enfatizou a idosa. Um amigo de minha sobrinha é cientista e trabalha numa multinacional. Vendeu-me este novo produto por um preço absurdo, caríssimo!...
Joanita leu o rótulo do frasco: Viagra, ereções em pó.

- Dona Dulce! – exclamou acanhada. O rapaz roubou seu dinheiro. Isso não existe.
- Existe sim, disse a velha, quase ofendida. Existe. Eu comprei. Coloque no bolo e verá seu marido como dizer... mais... disposto. Joanita pegou o produto e colocou duas colheres no bolo.

- Não, se o que falam de seu marido for verdade, ele é molenga, duas colheres é pouco! Gritou dona Dulce. E arrebatando o produto das mãos de Joanita, jogou tudo o conteúdo no bolo.
Sorridente, a velha disse que gostaria também de experimentar o bolo, já que havia contribuído.
Joanita colocou o bolo no micro-ondas, e ambas sentaram na sala, ao lado de Tomás, para assistir a novela.

Antes de terminar a novela Joanita tirou o bolo do forno. Os três assistiram a um filme, enquanto comiam o bolo. E, a verdade seja dita, estava delicioso. Joanita sentiu-se estranha, desejo de rir, de transar, de gritar... Estranha mesmo.

Acordou seis da manhã nua, deitada no carpete da sala, a seu lado seu marido dormia com ar de felicidade, também nu. E no sofá... No sofá dona Dulce dormia. Nua!...

Joanita gritou ao vê-la.

-Shhhh... Vai acordar os vizinhos – disse dona Dulce. Levantou-se, colocou o robe e, abrindo a porta, sorridente exclamou: “Seu marido é um garanhão, minha querida, um garanhão!”

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