sábado, 19 de dezembro de 2015

A Tribo dos Poetas (Crônica de Humor)



Uma das tribos urbanas mais chamativas é a tribo dos poetas. É uma tribo composta, em sua maioria, por vaidosos compulsivos, mas também batalham em suas fileiras, solitários, depressivos, tímidos, neuróticos e outros casos menos estudados.

Conhecendo a tribo, atrevo–me a dizer: não existe morro que não se compare como o Himalaia nem poeta que não acredite ter talento especial. Alguns casos são dignos de menção. Como aquela reunião de comerciários... Alguém mais quer falar? Perguntou um dos organizadores. Uma mulher se levantou. Era uma poetisa. Avançou entre as mesas com o nariz empinado. Há dois anos me dera seu livro dizendo: Seja honesta, professora. E eu fui honesta – eu sou tão ingênua! Ela não queria honestidade, não. Queria aplausos. Essa tarde pegou o microfone e leu um poema tão ruim, mas tão ruim, que as flores que enfeitavam a mesa, imediatamente, murcharam.

Contudo, quando percebo a vaidade quebrada fico comovida... Por exemplo, se ao entrar numa livraria vejo um poeta lançando seu livro naquela solidão que dá para sentir... Imediatamente me aproximo, adquiro um exemplar e peço um autógrafo. Na realidade o faço para ganhar o Céu. Quando Deus perguntar: o que você fez de bom no mundo? Eu responderei: comprei dezenas de livros de poetas desesperados. E Deus dirá: Pode entrar no Sétimo Céu.


Isabel Furini é escritora e poeta. Autora do livro de poemas "Os Corvos de Van Gogh".



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