sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

VENTANIA


O passado persiste.
Eterno vento sopra no corredor
das lembranças.
As portas do passado abrem-se... Sementes de ontem germinam hoje em um poema.

Isabel Furini

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CONCURSO DE POESIA “POETIZAR O MUNDO”

EVENTO LITERÁRIO Organizadoras: escritora e poeta Isabel F. Furini e professora Lourdes Lima, da Academia Feminina de Yoga, em Curitiba. 1) O Concurso de Poemas tem como objetivo estimular a produção literária e é destinado a todas as pessoas interessadas. 2) O tema é livre e a inscrição é gratuita e poderá ser feita até 20 de novembro/2010. 3) Cada concorrente poderá participar com apenas um trabalho inédito (ou seja, ainda não impresso nem publicado na internet), que não tenha sido premiado em outro concurso. 4) Consideram-se inscritas as obras entregues na sede da Academia de Yoga da professora Lourdes Lima, ou enviadas pelos correios, endereçadas da seguinte maneira: Concurso de Poesia: “Poetizar o Mundo”, Rua Cruz Machado, 258, Centro, Curitiba.PR. CEP 80410-170. 5) O poema deverá ser apresentado com pseudônimo em 03 (três) vias, escrito em língua portuguesa, digitado em espaço 2 (dois), com fonte Arial, tamanho 12 (doze), de um só lado do papel. 6) Deverá constar, no interior do envelope que contém o trabalho, um outro envelope menor, contendo em seu interior uma folha na qual constem o título do poema, pseudônimo, nome completo do autor, seu endereço, telefone, R.G., e-mail e pequeno currículo. E, na parte externa desse pequeno envelope, deverão constar apenas o pseudônimo do autor e o título do poema. 7) A comissão julgadora será composta por Adélia Woellner (poeta e membro da Academia Paranaense de Letras), Angela Reale (atriz, escritora e radialista, apresentadora do programa radial de literatura “Ensaios” com Angela Reale), Isabel F. Furini (escritora e poeta, autora de “O Livro do Escritor”), e Valdeck Almeida (jornalista, escritor e poeta). 8) Premiação: O primeiro lugar receberá troféu e diploma, o segundo e terceiro lugares, diploma. Também podem ser escolhidas até três menções honrosas que receberão certificado. 9)O resultado do concurso será divulgado no blog isabelfurini.blogspot.com – e em site literários da Internet, além do blog Falando de Literatura, do Bonde News. 10) Os certificados serão entregues aos ganhadores em 15 de dezembro/10. Na ocasião, também serão homenageados a poeta, escritora, professora e ativista cultural Leila Míccólis, do Rio de Janeiro, responsável pelo site literário Blocos Online o ativista cultural João Minali, de Santa Lúcia, São Paulo, responsável pelo Festival Cultural de Santa Lúcia,. 11) O encaminhamento dos trabalhos na forma prevista neste regulamento implica concordância com as disposições nele consignadas. 12) Os poemas enviados não serão devolvidos.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Oficina Como Escrever Livros Infanto-juvenis





OFICINA COMO ESCREVER LIVROS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Data: 04/agosto a 20/outubro de 2010 -

4ªs feiras. Horário: 14h30 às 16h30 Solar do Rosário, no Largo da Ordem, Curitiba. Fone: (41) 3225-6232.


Curso prático como escrever livros para crianças e adolescentes em 12 aulas.

1. Histórias para crianças: o mundo da imaginação. O conceito de conto. A teoria da escada. Exercício prático: Reescrever uma história famosa. 2. Características do conto infantil e dos contos para adolescentes. Como iniciar o trabalho?Exercício prático: Escrever um conto com um dado escondido. 3. Elementos da composição literária. O enredo dos contos infantis: lineares ou não lineares? Exercício prático: Escrever enredos a partir de sonhos. 4. A força do herói. As funções segundo Vladimir Propp. Exercício prático: heróis. 5. Figuras de estilo. Como usar as figuras de estilo? Livros infanto-juvenis. Exercício prático: Os sentidos. 6. O mundo da fábula. Histórico: Psicologia dos personagens. Exercício: Escrever uma fábula. 7. Editoras especializadas. Como apresentar os livros? Escolha da editora. 12. Visão geral da literatura infanto-juvenil. Exercício prático: Um conto aprimorado.

domingo, 25 de julho de 2010

A DANÇARINA

Dança a dançarina.
Dança uma coreografia saltitante
- quase um estouro de emoções.

Zimbram os pés, mexe a cabeça,
os braços serpenteiam como cobras peçonhentas
no jardim do corpo,
as mãos
passam de leve pela planície dos ombros.

O tronco geometriza palavras e idéias,
os dedos recriam um obscuro alfabeto arcaico
e desenham palavras no ar,
enquanto seu instinto de bailarina rústica
forja poemas impensados no espaço
contornado pelas mãos frágeis
que desenham corujas no ocaso.

Com sua irrefletida dança a dançarina
poetiza o mundo.

Isabel Furini

 Maria Isabel Saczuk - Professora de dança

sábado, 3 de julho de 2010

"Dicas" de como Escrever Livros


Quem mantêm este blog já publicou 20 livros e fez trabalho de ghostwriter (escritor fantasma), além de orientar oficinas para futuros escritores. Nas oficinas os alunos sempre solicitam "dicas" para melhorar seus textos.

Na continuação algumas "dicas" para construção de personagens de contos, novelas e romances:

1) Para construir personagens interessantes é preciso lembrar que os eles são seres complexos e podem apresentar contrariedades, agiar de forma inesperada.

2) O personagem pode crescer à medida que a obra avança. Às vezes nos surpreendem. São seres vivos, diríamos, que têm facetas escondidas, misteriosas.

3) O personagem tem uma história - o autor precisar conhecer bem a biografia do personagem, mas não é necessário escrever os detalhes.

sábado, 19 de junho de 2010

Morreu Saramago


Morreu em 18 de junho, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, Espanha, um escritor que comoveu o mundo com seus livros e suas ideias.


Ateu, revoltado contra a crueldade e hipocrisia humana, ele confessa em “Diários de Lanzarote” que a melhor prova de que Deus não existe é o homem. Foi ateu e comunista. Defendeu os palestinos, mas não por ser antissemita como pensam algumas pessoas, mas porque foi um homem sensível ao sofrimento alheio e defensor dos perdedores, dos oprimidos e dos humilhados.

José Saramago nasceu em 1922. Filho de agricultores, fez trabalhos humildes. É considerado um escritor autodidata. Em 1947, escreveu seu primeiro romance. Entrou no jornalismo e, ocupando diferentes cargos, foi crescendo como jornalista e escritor. Trabalhou nos Jornais “Diário de Lisboa” e “Diário de Notícias”.

Jornalista, contista, romancista, poeta, ele foi, até agora, o único escritor de língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura(1998).

Seu último romance, “Caim” (2009), foi muito criticado pela Igreja. Sobre as críticas, ele disse: "Desperto muitos anticorpos em certas pessoas". E assim ele morreu jovem e rebelde, aos 87 anos, fiel a si mesmo. O que mais pode desejar um homem?

sábado, 5 de junho de 2010

Palestra Como Escrever e Publicar um Livro


Recebi convite da Academia de Yoga da Lourdes Lima, rua Cruz Machado, 258, centro, Curitiba, fone (41) 3225-1340, para ministrar a palestra: Como Escrever e Publicar um Livro.


A palestra gratuita será em 08 de junho (terça-feira) às 15:00 horas.


Serã abordados os seguinte tópicos: Como construir personagens marcantes. A magia do enredo. Características do conto e do romance.


Veja sugestões de exercícios em O Livro do Escritor, da editora Instituto Memória.



sexta-feira, 28 de maio de 2010

CAMPO DE TRIGO DE VAN GOGH

Corvos ferinos, mímicos ferinos,
sombras da genialidade,
murmúrio dos rios subterrâneos,


canal das águas do inconsciente
campo de trigo com pretos corvos
moendo as tenebrosas horas.


O vento sussurra entre os ouvidos a tela


- quase um ulular de morte.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

PALESTRA E LANÇAMENTO DE LIVRO


Palestra gratuita, Como escrever um livro, baseada em “O Livro do Escritor”, da Editora Instituto Memória, será ministrada em 26 de maio, às 19:00 horas, na FNAC do Parkshopping Barigui, Curitiba, pela escritora Isabel Florinda Furini.

Serão abordados os seguintes tópicos: Diferença entre Conto, Crônica, Novela e Romance. Estrutura do conto. Criação de personagens instigantes. Elementos da composição literária. Técnicas para o livro infanto-juvenil.

Ao finalizar a palestra será lançado o livro: Oratória Forense, da Editora Instituto Memória.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O PODER DO LIVRO (Conto)

Como um alquimista em busca da pedra filosofal, Roberto colocou pó de enxofre nos dedos das mãos e manuseou as páginas de um romance, abrindo-o ao acaso. Leu um parágrafo. Tantos anos na Editora deram-lhe uma firmeza inigualável.

– Dona Irineia.... – chamou o patrão.

– Sim, senhor – respondeu ela, enquanto se levantava, empurrando a cadeira.

Ele respirou profundamente e disse com raiva:

– Essa febre de escrever tomou conta da população! Todo mundo quer escrever, é irritante!
Roberto acomodou os óculos grossos sobre o nariz proeminente e alisou seus cabelos grisalhos, longos e oleosos.

– Por favor – pediu Roberto, acendendo um cigarro – Isto é ridículo! Este cara já enviou mais de dez livros... Soltou a fumaça do cigarro no ar. – Ele ainda não entendeu que nunca vou publicar suas obras? Quando vir este nome no envelope nem abra. Jogue fora!
Irineia disse que enviaria a carta padrão. Carta padrão consistia num modelo, onde a obra do escritor era elogiada e a Editora pedia desculpas por não poder incluí-la, falta de espaço na programação. Isso evitava processos e discussões intermináveis com autores inconformados.

Leu uma página e ficou irritado, “vejo um escritor de pulso vacilante, tentando contar uma história, mas sem técnica suficiente. Um trabalho superior a suas forças, megalomaníaco” pensou. – Não é suficiente ter uma história interessante, deve ser bem contada. Deve ser: “Alento de fogo.” Dona Irineia colocou novos livros sobre a escrivaninha: “Sonhos”, “Heróis do presente”, “A Morte de Joana” “Chuva no telhado” e “Mundo em guerra”. Roberto empurrou os óculos grossos de armação preta e enfiou o nariz nos originais de “Heróis do Presente”. Gás Bucal, murmurou.

Fechou o livro e voltou a abri-lo. Leu um parágrafo. Fechou e tornou a abri-lo pela terceira vez.
Não, eu estava certo na primeira classificação: Gás Bucal. Anote,dona Irinéia, Heróis do Presente, é Gás Bucal.

Sempre falava para a secretária qual tinha sido sua avaliação. Fazia anos que ela trabalhava para ele e já não sabia viver sem sua presença calada e submissa. Só uma vez Irineia levantara a voz, dois anos atrás, para defender um livro de amor e traição. Nunca antes, nunca depois.

Pegou o livro “Chuva no Telhado” – Roberto deixou fluir os originais encadernados em cor cinza pelas mãos sensíveis. Passou os dedos pelas bordas e o abriu. Leu uma página, este é pior. Nos últimos três meses, só os originais de “Lago em Sombra” tinham sido aceitos para edição. Roberto tinha, à semelhança dos alquimistas, a busca incansável. Ainda lembrava seu avô dizendo: Existem dois tipos de editores, os editores alquimistas que procuram a pedra filosofal das palavras e os editores alquimistas que procuram simplesmente o ouro filosofal. Ele era do tipo um.

Seu avô tinha ideado um método infalível de classificar os originais. Tinha relação com o elemento ar. Talvez porque o avô Florêncio fosse de um signo de ar, Gêmeos. E toda sua vida tinha acreditado no destino e nas estrelas.

O método era o seguinte: Ruim, D – Gás estomacal. Bom – C: Gás bucal – Provinha da boca. Muito bom: B – Corrente de vento chega à garganta. Excelente: A – Gás Pulmonar . Obras de grande qualidade chegavam poucas. Extraordinário: AAA- ALENTO DE FOGO – O fogo do corpo e da alma.

Poucas obras “Alento de Fogo” havia recebido na vida. Na realidade, só recebera duas. Há trinta anos, seu avô ainda era vivo, quando receberam uma obra Alento de Fogo. O avô Florêncio estava doente, mas ao ler o texto recuperou-se totalmente e viveu mais cinco anos, com muita energia e vitalidade..

– Só o Alento de Fogo pode dar a vida... ou a morte... – disse o velho.

Dez anos atrás tinha reconhecido, ele sozinho, outra obra Alento de Fogo. Foi fascinante. A cada página que lia recuperava a vitalidade. Fez uma viagem ao redor do mundo. Nada de hotéis caros, de shoppings nem de restaurantes chiques. Caminhou pelas areias do deserto. Escalou as pirâmides, dançou na Ilha de Páscoa diante dos vigias.

Foi feliz durante dois anos. Mas a energia do alento também se esgota. Desde então, só procura o Alento. Há anos que traz os óculos grossos que escondem o desespero de sua alma na procura de um livro especial. Um livro que o tire da monotonia, da mesmice, das preocupações, do vazio da vida. Um livro revelador de um mundo paralelo que fale de suas expectativas, de seus sonhos, acertos e fracassos.

Roberto procurava na literatura, na palavra, a antiga arte da transmutação da mente. Arte anterior às técnicas da mente positiva ou da neurolinguística e outras ervas, que no seu entender, vendiam fantasias... das boas e das ruins, e algumas dessas fantasias eram terrivelmente nocivas à alma.

Roberto procurava na literatura a arte de entender o mundo. E a vitalidade para continuar a viver. A vitalidade que tinha perdido nos longos dias de leitura, na luta constante para analisar os textos com justiça. A análise e a luta com os textos sugaram sua energia. No fragor da contenda ficou míope e não conseguia enxergar a beleza da vida.

Roberto também escrevia. Ler e escrever. Escrever e ler. Sua vida tinha-se debruçado sobre os livros. Sua vida tinha-se esgotado entre letras impressas e folhas de papel. Os livros inéditos se pareciam. Eram como almas sem corpo. Todos pareciam iguais: papel branco oficio ou A4, letra New Roman ou Arial, corpo doze, duplo espaço.

Originais ruins que chegavam a suas mãos eram jogados no lixo. Não lia. Só abria três vezes o livro. Abria o livro, lia uma página e anotava a classificação. Abria de novo e lia dois parágrafos. Abria-o, pela terceira vez e só lia um parágrafo. Ele dava três chances. Só três, para cada candidato.

Originais ruins eram jogados no lixo. Não lia. E não era por falta de tempo. Nem por preguiça. Não lia porque lhe fazia mal, como a carne gordurosa o intoxicava. Intoxicava sua alma, embotava seus sentidos. Em síntese, diminuíam o ciclo de vida de Roberto.

Para Roberto, não ler lixo não era modismo, capricho, nem uma forma de esnobar a literatura. Era sobrevivência. Teve terríveis experiências, um livro mal escrito aumentava sua úlcera, desregulava os movimentos de diástole e sístole de seu músculo cardíaco.

Poucos sabiam que o alimento de Roberto era a literatura. Não só o alimento de sua alma, mas até certo ponto, a literatura era também o alimento de seu corpo. Até suas vísceras precisavam de leitura. Uma página ruim que lia, e seu corpo parecia desmembrar-se.

– Hoje não estou com sorte – pensou, enquanto terminava de ler o parágrafo. Só achou um livro C. Classificação A e B, lia do princípio até o final. Os outros não, questão de saúde Ao final da tarde, recebeu a visita de seu primo José, dono de uma grande editora.

– Importa-se demais com qualidade, Roberto – recriminou-o – Marketing. Agora tudo é marketing. Eu dou para o departamento de marketing ver as possibilidades de venda, a gente nunca sabe quando tem um best-seller nas mãos...

– Lembra de nosso avô Florêncio?

– Você sempre foi o neto preferido dele.

Vô Florencio sempre dizia que um livro é como uma panela de pressão. Tem ar quente... entende, José? Todo livro tem um ar... um alento... o livro ruim é como uma panela de pressão com ar gelado, esfria o sangue nas veias, pois não foi purificado pela arte. Panela de pressão apitando, enfumaçando, é sinal do fogo do artista. Esse fogo fica impregnado em cada página, em cada parágrafo, em cada frase, em cada canto do livro.

– Panela de pressão! – exclamou José e soltou uma forte gargalhada que atravessou
o ar e bateu no relógio. O relógio deu algumas badaladas, longas, sem compasso, arrítmicas.
No dia seguinte, o céu nublou-se, a chuva bateu sobre os vidros da janela. Roberto continuara lendo. Três dias depois, voltou a sair o sol.

Nessa quinta-feira, Roberto chegou à Editora às 8 da manhã, como era habitual.
A luz estava acesa. Entrou. Dona Irineia estava de pé, falando com uma senhora baixinha e muito magra, de cabelos brancos unidos no alto da cabeça por um coque, ao estilo das avós antigas. Vestia com elegância uma blusa azul, com pequenos desenhos vermelhos e uma calça azul marinho.

– A senhora é autora – disse Irineia, sem jeito.

– Bom dia, Senhor . – disse a velhinha, fitando-o com seus olhos azuis, intensos.

– Meu nome é Maysa – apresentou-se e estendeu-lhe a mão direita para cumprimentá-lo, enquanto com a esquerda apertava os originais.

– A senhora não sabe ler? – perguntou Roberto, de forma ríspida, cruzando os braços.

– Sei, claro que sei ler – disse ela recolhendo o braço e pegando o livro com ambas as mãos.

– Pois veja, então, minha senhora! – gritou Roberto, abrindo a porta e assinalando o cartaz – Autores: Proibida a entrada.

– Senhor Roberto – disse Irineia, tentando ajudar a velha senhora – eu a deixei entrar, ela só quer falar sobre o livro. Ficou anos escrevendo e...

Roberto interrompeu sua fala. Pode deixá-lo...

Abriu a porta, entrou e sentou-se em seu lugar. Pela porta entreaberta, viu que a velha continuava em pé, imóvel.

– Fora daqui – disse entre dentes – fora, velhinha, fora. Eu não edito biografias de mortos ilustres, não edito livros de tricô, nem receitas culinárias. Escutou a velha despedir-se e o ruído da porta fechando-se. Roberto colocou enxofre nas pontas dos dedos e abriu um livro. Buscava a cada dia a áurica dos alquimistas, o mercúrio.

– Posso entrar? – perguntou dona Irineia.

Roberto ficou impressionado. Raramente ela entrava sem ser chamada.

– Peço que o senhor avalie este livro, por favor, senhor Roberto. Não tomará muito de seu tempo. Faça esse favor para mim – e colocou o livro sobre a escrivaninha.

– Está bem – disse ele, num gesto resignado, como um capitão depondo as armas.

Roberto abriu o livro. Começou a ler a página, o primeiro parágrafo e nas solas de seus pés sentiu um comichão. Segundo parágrafo e um calor começou a subir de seus tornozelos. Apertou o estômago, o batimento cardíaco chegou à garganta e transformou-se em admiração e em silêncio. Antes de terminar a página, viu um espírito, um dragão vermelho e preto. Um dragão enorme, que devorava as florestas da dúvida, derrubava as montanhas da presunção e arrasava os vales da mediocridade.

- Uma obra prima! – tentou gritar, mas não conseguiu. Sentiu um estouro na garganta... ou foi no peito? Eram cinco horas e o relógio de pêndulo começou a dar a primeira badalada.
Roberto sentiu que seu peito doía. Era uma dor dilacerante. Levou as mãos ao coração . Oh, Deus, pensou, e sentindo a morte chegar, não lamentou sua busca. Não os anos perdidos diante da escrivaninha, nem a janela fechada onde nunca entrava o vento. Não lamentou ter ficado sem amigos, em ter sido abandonado pela esposa. Não lamentou ser considerado estranho ou louco. A única coisa que lamentava era ter que partir da terra sem poder terminar de ler originais com “Alento de Fogo”. Alento de fogo, alento de fogo, repetia. Abriu novamente o livro e tentou ler...

– Alento de Fogo! – gritou. Abriu os olhos e a boca e o espírito do livro, o dragão invisível, transformou-se numa bola de fogo incandescente, foi arremessado de seu corpo e jogou-se sobre os originais do livro. Seu rosto caía pesadamente sobre a escrivaninha, enquanto seu espírito livre revoava sobre a mesa, nas asas do dragão. A asa esquerda do dragão bateu na janela, quebrando o vidro. Entrou uma lufada de ar. Respirou profundamente. Esse ar que entrava pelo vidro quebrado lhe fazia bem, muito bem, devolvia-lhe a vitalidade.

Abriu os olhos. – Vou chamar um médico – disse Irineia.

– Não, não... estou bem. Só preciso ler.

Irineia olhou-o com assombro. Roberto abriu o livro e leu a primeira página. Sorriu.
Irineia... Irineia.... – disse com voz quase carinhosa. Irineia, estou lendo e pensando... já somos quase velhos, Irineia, passamos tantos anos trabalhando juntos... tantos anos. Olharam-se em silêncio.

Quero dar a volta ao mundo. Quer viajar comigo, Irineia?

– Como sua secretária?

– Sim...Não! Não! Viajar comigo.... você sabe... você sabe, Irineia... Nós nos damos bem... nós gostamos dos mesmos livros.... vamos envelhecer sozinhos.... e envelhecer sozinho, é tolice, não acha? Vamos compartilhar nossos últimos anos? O que diz, Irineia?
Irineia chorava como uma criança que, no Natal, ganha um presente inesperado de Papai Noel. Só conseguiu enxugar as lágrimas. E sorrir.

4º lugar no Concurso de Contos Paulo Leminski, 2008.

sábado, 8 de maio de 2010

OS PORTÕES - Conto de Isabel Furini




Pegou um gladíolo que sobressaía entre as flores que sua irmã havia espalhado sobre o túmulo e colocou-o no vaso de cerâmica azul com desenhos bucólicos. Depois foi a vez de arrumar os cravos brancos, logo as calêndulas junto com folhas verdes. Sempre gostou de ramalhetes, até fez cursos de ikebana, por isso, nessa tarde de domingo, quando sua irmã Cacilda, sempre impaciente, espalhou as flores sobre o túmulo, rezou uma rápida prece e disse tchau Maria, vou para casa de mamãe, ela nem se preocupou.

Quando terminou de arrumar as flores, o Sol já estava caindo e faltava pouco para que o guarda-noturno do cemitério fechasse os portões. Deveria ter saído com Cacilda em vez de dizer tchau e continuar arrumando as flores. Por que eu não fiz isso? Por que sou tão detalhista? Pensava enquanto caminhava entre as cruzes e os túmulos em busca de uma saída.

O sol começava a cair e ela, receosa, acelerou o passo. Olhou para os lados. O cemitério ficou deserto e ela lá, sozinha. Começou a sentir um friozinho na barriga. Deu para perceber o formigamento nas mãos, sempre que se assusta tem essa sensação desagradável. Acelerou ainda mais o passo, tentou correr. Não conseguiu. Sempre que sentia medo acontecia a mesma coisa, suas pernas não obedeciam a seu comando. Essas cruzes. Oh! não!.. errei o caminho. Estava na parte detrás do cemitério, só via um muro pintado de branco. Só isso. Voltou sobre seus passos, túmulos enfileirados e mais túmulos...Seria essa a rua certa? Sentiu medo.

Queria sair e rápido. O sol se escondia no horizonte. Cacilda estava apressada, disse tchau Maria, podia ter me esperado - mas não, nunca me espera, desde criança ela gosta de deixar-me para trás. Ela, por ser a mais velha, sempre teve mais liberdade. Para onde estou indo? Estou perdida. Calma, Maria, calma, você conhece este cemitério, já veio aqui várias vezes. Calma, calma. Avançou entre os mausoléus. Ah! Já estava perto de um portão, que sorte!... Queria sair imediatamente dali. Não conseguia correr, mas conseguia caminhar, ao menos isso. Seus pés pareciam presos a terra, seu passo não era tão rápido quanto ela queria e suas pernas tremiam, mas estava indo para frente enquanto as sombras avançavam. Com desespero, viu o muro branco e os portões fechados. Não conseguiria sair. Onde estará o guarda- noturno?

As sombras se espalharam sobre os túmulos dando ao cemitério um aspecto fantasmagórico. Os mortos eram isso mesmo, mortos. Nada poderiam fazer contra ela, mas mesmo assim ela sentia medo. Devia ter saído com sua irmã. Cacilda sempre fazia visitas rápidas apenas para colocar as flores de qualquer maneira, sem nenhuma arte e rezar uma Ave Maria.

Devia reconhecer a verdade, não sabia o caminho para o portão principal do cemitério e estava anoitecendo. Anoitecendo depressa. As sombras se estenderam e ela aí, caminhando sem cessar. Tentando sair. E o vigia? Olhou suas roupas novas. Nem lembrava quando as havia comprado. Estava tão estressada que nem conseguia lembrar quando ou em que loja comprara essas roupas. Pena que não tinha o celular com ela. Ela havia esquecido o celular em casa!...

Seguramente na mesa de jantar ou talvez no criado mudo. Não tinha nem um espelho. Queria olhar-se no espelho. Que ridículo! Pensou. Querer olhar-se no espelho em um momento desses.
Aquele mausoléu de mármore branco!.. Desse mausoléu lembrava bem, estava à esquerda do portão principal. Que sorte! O guarda estará lá. Ele abrirá o portão. Que bom. Ele abrirá o portão. Apressou o passo e lá estava o portão. Suspirou aliviada.

Sob os últimos raios do sol e a lua cheia que começava a aparecer no horizonte, viu o portão, mas ninguém por perto. E o guarda? Avançou até o portão e olhou para os lados. A solução é escalar, pensou. E, determinada, começou a escalar o portão, primeiro colocou um pé na barra inferior da grade e ergueu os braços para segurar na parte superior. Conseguiu elevar-se um pouco.

Esforçou-se mais, ergueu os braços novamente e segurou uma das barras horizontais. Já estou perto do topo, que sorte! Mais um esforço e... tocou a barra superior do portão, um pé no ar e o outro pé escorregou antes de poder segurar com as mãos e caiu de costas. Sentou-se rapidamente no chão, não estava machucada, mas devia iniciar de novo a subida. O guarda-noturno estará perto? Olhou para os lados. Ninguém. Ficaria aí, agarrada ao portão. Alguém passaria a qualquer momento e a ajudaria. Suas mãos se aferraram às grades altas. Quando criança já havia tocado essas grades, foi no enterro da avó e sempre lhe pareceram muito frias. Mas agora não. Nem sentia a temperatura, ela estava tão fria quanto o portão. As mãos frias e morrendo de medo.

De repente, sons de passos. Um jovem de cabelo loiro transitava pela rua, vinha do bairro em direção ao ponto de ônibus. No desespero por chamar a atenção do rapaz sacudiu o portão e gritou, gritou com todas suas forças. Viu o rapaz parar em frente do portão, com os olhos arregalados por um segundo, e sair correndo apavorado.

– Idiota!.. Volte!... Ajude-me a sair daqui.

– O que foi moça? – perguntou alguém atrás dela.

Graças a Deus, o guarda do cemitério a escutara. Voltou-se. O que viu a deixou confusa. Havia inúmeras pessoas atrás dela, homens, mulheres, velhos, jovens, adultos, crianças. Todos olhando o portão. Alguns com tristeza, outros com desespero e outros ainda, com raiva.
Um velho aproximou-se dela.

– Você deve ser nova aqui e não conhece as regras. Só podemos olhar para fora, mas não podemos sair. Não podemos sair. Só os vivos podem, só os vivos.

Isabel Furini
Esse conto recebeu Menção Honrosa no Concurso de Contos de Porto Seguro, Brasil, em 2009.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

PRÁTICAS DE ORATÓRIA


Você pode falar em público, comunicar suas idéias, suas experiências, seus ideais. Se ambicionar um cargo melhor na empresa ou desejar entrar na vida política, deverá demonstrar que está capacitado. Você precisa usar palavras, palavras convincentes, para atingir seus objetivos.


O curso Prático de Oratória que ministramos durante muitos anos abrange estudos e práticas. O aluno aprende a superar inibições, timidez, e a falar em público com técnica e êxito.

Nos anos 90 publicamos dois livros abordando técnicas fundamentais para falar em público, “Práticas de Oratória” e “Arte de Falar em Público”, ambos pela editora Ibrasa de São Paulo. Atualmente, estamos preparando os originais de um novo livro e lançando um curso de Oratória.

Informações: isabelfurini@hotmail.com

domingo, 11 de abril de 2010

A LITERATURA NA POLTRONA (Resenha)


A Literatura na Poltrona, José Castello (Record, 2007, 204 páginas) é leitura obrigatória (e prazerosa) para jornalistas, estudantes. Escrito pelo crítico literário, jornalista José Castello, um dos maiores intelectuais do Brasil, a obra instiga o leitor a renovar sua leitura do mundo, seu olhar sobre o jornalismo, sobre os grandes autores.


A Literatura na Poltrona é um livro ágil, sem perder a profundidade. Castello tem o poder de ir até o âmago das questões. Discute a visão dos profissionais do jornalismo cultural. Apresenta histórias de autores célebres, e é um verdadeiro banquete para quem gosta de conhecer um pouco mais e saborear obras literárias de alta qualidade.


O autor conheceu Clarice Lispector, Vinicius de Moraes, João Cabral de Mello Neto e outros monstros sagrados da literatura. Também visitou locais onde viveram o escritor Franz Kafka e o prêmio Nobel de literatura chileno, o poeta Pablo Neruda. Com excelência, o jornalista, como um sábio cicerone nos mostra em Praga (capital da República Tcheca) e no Chile, os elementos que influenciaram os escritores e suas obras, mas, sobretudo, nos ensina a observar, a refletir, a fazer uma leitura de grandes autores e uma leitura mais ampla do mundo. O leitor tem a sensação de subir pela ladeira da montanha da literatura e contemplar um panorama deslumbrante. Um livro que tive prazer de ler e recomendo.


José Castello também publicou "Inventário das sombras" e "Fantasma" (ambos da Record), "O poeta da paixão" (Companhia das Letras) e "O homem sem alma/Diário de tudo" (Bertrand). Atualmente assina o Blog Literatura na Poltrona, http://oglobo.globo.com/blogs/literatura/ - e é colunista do suplemento Prosa & Verso, de O Globo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A FOTOGRAFIA - Crônica de Isabel Furini

A mulher entrou no estudo do fotógrafo. Foram quase 50 minutos de virar a cabeça para um e outro lado, de sorrir e parar com os sorrisos, enquanto o fotógrafo enfocava a câmera, acendia e desligava luzes, se aproximava e se afastava. Por fim, o homem ficou satisfeito com seu trabalho. Foi até o computador que estava em um canto da sala e mostrou, feliz, a fotografia artística.
- Veja a luz, senhora, ficou perfeita desse ângulo, e a textura...
– Hummm...
– Hummm???
– Hummmm.... não sei não. Estou iniciando um Blog e vou colocar essa fotografia destacada junto com meus poemas. E esse retrato não sei, não, ficou feio. Não dá para passar esse retrato pelo fotoshop para que fique mais bonito?
O fotógrafo observou o retrato no computador, fitou a mulher e pensou: esse retrato é cópia fiel do rosto desta coroa.
– Gostaria que caprichasse mais, continuou a poetisa, veja de tirar essa mancha do lado esquerdo da testa e essas rugas. Ah!... também procure acentuar a cor dos olhos, definir mais as sobrancelhas, diminuir o tamanho do nariz, e gostaria que os lábios ficassem mais carnudos e sensuais e...
– Um momento! – interrompeu-a o fotógrafo. A senhora não prefere colocar no blog uma foto da Sandra Bullock com seu nome embaixo?

Isabel Furini


sexta-feira, 12 de março de 2010

Xipe Totec (Poema de Isabel Furini)

Esses poemas, poeta, esses poemas.
Esses poemas rastejam pelo submundo ­
– violentos e criminosos
quebram sonhos e rasgam vocábulos.

Esses poemas com suas pinças de escorpião
tirarão tua pele ensangüentada de poeta louco,
e serás transformado em um novo Xipe Totec (o esfolado).
Serás um novo ídolo asteca.

Esses poemas, poeta, esses poemas...

Isabel Furini


quarta-feira, 10 de março de 2010

Chapéus (3)




CHAPÉUS 

Eu gosto de experimentar
lindos chapéus de seda,
e também gosto de sonhar
que sou uma formosa rainha.

Agora vou colher uma colher de chá,
para beber
um gostoso chá,
pois a vida sempre parece mais doce
quando bebo chá de erva doce.

Isabel Furini

Chapéu na literatura (2)


Chapéus aumentam o glamour.

O Chapéu na literatura


Chapéus protegem do sol e, além disso, chapéus encantam - aumentam o charme, o glamour e... até a altura da pessoa. Sim, alguns historiadores consideram que o hábito de Napoleão Bonaparte usar chapéu era uma pequena estratégia para parecer mais alto. Chapéus também marcaram grandes personagens da literatura. Sherlock Holmes, o famoso detetive inglês, usava chapéu. Ernest Hemingway em sua obra O Sol também se levanta, imaginou a protagonista, Brett Ashley, usando um chapéu masculino. No livro: A Insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, lemos: “Por isso, quando Sabina colocou diante dele o chapéu-coco na cabeça, Franz sentiu-se constrangido...” Sim, parece que os escritores imaginam belas mulheres usando chapéus masculinos, vejamos o capítulo 9, de Madame Bovary de Flaubert: “Cem passos adiante, ela parou de novo, e, através do véu do chapéu de homem, que lhe descia para os quadris, distinguia-se-lhe o rosto de uma transparência anilada...” Livros infantil também enfatizam chapéus, entre eles o capuz “Chapeuzinho vermelho”, a cartola do Chapeleiro Maluco, e um livro mais recente “Daniel adora chapéus, de Mónica Tritone, um chapéu de verdade vem junto com o livro. Chapéus, chapéus, chapéus! Eu estou torcendo para que a moda do chapéu volte a enfeitar nossas cabeças. E você?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Flores


O PROCESSO DE KAFKA



Gárgulas procuram o Processo
e o misterioso Castelo de Kafka.

Gárgulas ferozes
conspiram no silêncio,
escalam as muralhas
e descobrem invisíveis paredes de pedra e solidão.

Medos instintivos
voam por ruas ignoradas,
poeirentas,
em uma cidadela de fracassos
e desamor.

Cobras de emoções envenenam antigos alfabetos
e invadem os livros de Kafka,
(triunfantes)
reeditam o processo
(eterno)
no labirinto do tempo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

PRÊMIO NOBEL DA PAZ: MAHATMA GANDHI OU OBAMA?...

Obama é um grande líder. E isso não pode ser discutido. Ele é jovem, inteligente e carismático. Mas o que ficou muito estranho, nesse ano de 2009, foi o Comitê do Nobel, em Oslo, justificar a decisão de outorgar-lhe o Prêmio Nobel da Paz por "dar ao mundo a esperança de um futuro melhor", como noticiou a imprensa. Se esse sistema de escolha for admitido, então, um poeta poderia ganhar um prêmio não pelos poemas que já escreveu, mas por dar esperanças de que escreverá os melhores poemas. Atores e atrizes de cinema poderiam ganhar o Oscar não pelo trabalho que realizaram, mas pelos trabalhos que realizarão. Um artista plástico seria elogiado, não pelos quadros que pintou, mas por dar ao mundo a esperança de que pintará quadros magníficos. E até no currículo profissional não seria importante colocar aquilo que o candidato já fez, mas o que poderia fazer. Interessante que Mahatma Gandhi, o líder indiano da “não violência”, conseguiu pacificamente a liberdade da Índia, que estava sob o domínio dos ingleses. Ele adotou o método da “desobediência civil”, um método pacífico. Mas sua luta pela paz não foi reconhecida em Oslo. Gandhi nunca recebeu o prêmio Nobel da Paz. Gandhi disse: “Minha ambição é nada menos que converter as pessoas britânicas à não violência, e assim lhes fazer ver o mal que fizeram para a Índia. Eu não busco danificar as pessoas.". A paz estava em suas palavras, em suas ações, em sua forma de lutar contra o imperialismo britânico. Esperemos que a “esperança” do Comitê do Nobel em Oslo não fique só no plano dos sonhos. E que, em 2010, o mundo avance, com firmeza, rumo à paz. Paz para todos os povos, sem distinções de raça, de cor, de nacionalidade, de religião, de posição econômica, de cultura. Um mundo mais fraterno. Um mundo mais pacífico. Um mundo melhor.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Van Gogh (poema)

VAN GOGH
Ulula o chicote do tempo
no vulcão das horas,
e no local absurdo,
tétrico,
do porão da mente,
o brilho dos quadros
cinzela as noites de insônia.
Enquanto emoções disputam espaços,
a orelha
- banida do tempo -
impulsiona-se para a eternidade.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

VAN GOGH (Poema en español)

 

VAN GOGH 

Ulula el látigo del tiempo 

en el volcán de las horas, 

y en el lugar absurdo, tétrico, 

del sótano de la mente,

el brillo de los cuadros

cincela las noches de insomnio. 

Mientras emociones disputan espacios, 

la oreja – banida del tiempo – 

es impulsada para la eternidad.

 

Isabel Furini

domingo, 17 de janeiro de 2010

OS RELÓGIOS DE DALÍ


Você alguma vez sentiu-se como um relógio de Dalí? Eu sim, algumas vezes. E conheci pessoas que também tiveram essa sensação.


Veja: a persistência da memória mostra relógios moles que marcam horas diferentes (tempo caótico?) enquanto o quarto relógio (o relógio vermelho) é devorado por formigas.

Só um gênio como Dalí poderia criar essas imagens que podem ser interpretadas de diversas maneiras. Crítica ao mundo moderno?... As formigas seriam os operários. O tempo devora homens e objetos. O tempo psicológico?... A preocupação com o tempo?... Ainda que a vida de uma pessoa esteja organizada, essa organização é provisória. Já os ecologistas pensam que Dali mostrou que se o meio ambiente não for respeitado, o mundo será convertido em um deserto.

Em minha visão, muito subjetiva (ninguém precisa concordar), os relógios podem ser pessoas desajustadas tentando ajustar-se ao mundo moderno (esse mundo devorado pelas formigas).

E nosso mundo não está se desintegrando? Nosso cotidiano não é pesado como o trabalho das formigas?... E muitos de nós não estamos fazendo esforços para ajustar nossos relógios e viver ao ritmo do mundo? As pessoas falam: já ninguém faz visitas como antigamente. Não há tempo. Não posso olhar para os problemas dos outros, não há tempo. Só posso olhar meu próprio umbigo.

O que você pensa dessa pintura, interpretada tantas vezes e de formas tão diferentes? Essas imagens são realmente arquetípicas e cada pessoa pode dar uma interpretação diferente. Pois quando uma imagem fala à nossa alma – nossa alma expressa sua emoção.

Como disse Gala, a esposa de Dalí: “Quien lo vea no lo olvidará jamás”.

Dediquei alguns humildes versos a essa incrível obra de arte:

O personagem dos longos cílios empurra
a aldrava dos sonhos
e novamente no deserto inóspito perto do mar,
os ternos relógios paranóico-críticos tentam acertar as agulhas
– como pessoas despreparadas para o mundo.

Fontes de Curitiba (3)


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