sábado, 31 de maio de 2008

VOCÊ GOSTA DE ESCREVER?

Orientei a Oficina "Como Escrever um Livro", no Solar do Rosário, em Curitiba, PR, durante 15 anos. Nas aulas observei a luta dos alunos na criação de um bom texto.

Escrever é semelhante a um ato de magia. A criação literária é como a frágua de Vulcano. Escrever nunca é morno. Escrever é angústia, raiva, incêndio, esperança, fingimento e desespero. É criar castelos de areia com palavras e temer a ventania.

Escrever é emoção primitiva, instinto de autoexpressão. É gritar, usando corretamente a linguagem. É, então, grito medido, sofisticado – chamo isso de fingimento – pois é grito visceral, mas contido. Educado para expressar-se através de figuras estilísticas, discursos e silêncios, focos narrativos e personagens.

Escrever é colocar rédea nos cavalos da emoção. Civilizar a cólera. Contê-la para não expor em demasia esse eu paradoxal que deseja expressar-se, ora aparecendo, ora voltando-se sobre si mesmo. Escrever é, às vezes, um ato de coragem e em outras, um ato de estupidez. Mas sempre uma busca de catarse. O texto é o produto do transbordar de um eu – Netuno, escondido nas águas do inconsciente. E é esse eu desconhecido que brinca com as palavras, deleita-se com as próprias histórias e incentiva o leitor a navegar no tempestuoso mar da literatura.

Isabel Furini - é escritora e educadora.




domingo, 18 de maio de 2008

VOCÊ COMPRA LIVROS PELOS TÍTULOS?

Os títulos dos livros funcionam como “ganchos” literários. E quem se baseia em títulos para comprar livros, às vezes cai em uma emboscada. Título bom, conteúdo ruim. Mas nem sempre. Muitas vezes, o título passa alguma idéia do livro, por exemplo, ao ler o título Cem Anos de Solidão de Garcia Marques, temos a sensação de que os personagens estão submersos em uma solidão sem fim. Em uma das aulas de criação literária que ministramos em Curitiba, uma senhora levou um livro chamado Melancia. Um rapaz, ao ver o livro, comentou com sarcasmo “pessoal, imaginem quanto essa autora deve ter pensado para escolher um título tão elaborado, tão sofisticado, tão criativo: Melancia”. A turma riu. Outra moça acrescentou: “parece livro de receita de cozinha”. Mais risos. A senhora, um pouco zangada, defendeu o livro dizendo que ela havia lido e havia gostado. E é assim mesmo, gosto não é para discutir (a não ser que você seja crítico de literatura ou de arte). Se todos os autores escrevessem livros ao estilo de Marcel Proust, não teríamos opções de estilos. Mas é bom analisar as implicações de um título. Muitas vezes, o autor coloca um título em seu livro e a editora sugere outro. O apelo comercial é muito importante para as editoras, pois ninguém quer publicar um livro que fique encalhado. Muitas livrarias escolhem pelas capas, os livros para exposições em vitrines e gôndolas. Nelas distinguimos dois elementos importantes: o título do livro e a imagem. Capas bonitas, capas chocantes, títulos de impacto têm maiores chances de vendas. Robert Kiyosaki, autor de Pai Rico, pai Pobre, conta que um editor aconselhou o título Economia doméstica. O escritor, com bom discernimento, exclamou: Quem vai comprar um livro de economia doméstica?!! Pai Rico, pai pobre é um título provocador. E deu certo, o livro vendeu milhões de exemplares. Acontece que o mercado editorial está tão saturado, são tantos títulos novos todos os anos que fica difícil escolher. Por isso, muitos leitores procuram por autores consagrados. As obras de Garcia Marques, Lygia Fagundes Telles, Loyola Brandão, Dalton Trevisan, Moacyr Scliar (e outros, pois é impossível nomear a todos) parecem trazer o selo de qualidade impresso na capa. Muitas pessoas chegam às livrarias e perguntam: Tem algum livro novo de Moacyr Scliar? Quais são os livros de Lygia Fagundes Telles que você tem? Às vezes, os leitores já conhecem esses autores ou escutaram falar e querem conhecer... Para não nos deixarmos levar só pela capa, uma boa técnica é ler as orelhas do livro, o sumário e o prefácio. Com isso, já teremos uma visão mais próxima do seu conteúdo e poderemos avaliar se a obra será de nosso agrado. Pois ler deve ser como aquelas propagandas de cigarro,“um raro prazer” e o importante é que ler não causa câncer nem impotência. Leitura só traz vantagens, pessoal, só vantagens.
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