sábado, 29 de março de 2008

COMO ESCREVER UM LIVRO?

Aula 1º VOCÊ GOSTA DE ESCREVER? Os artigos de “Como escrever um livro” – que iniciam hoje- tem o objetivo de auxiliar futuros escritores. Dar os lineamentos gerais para obras de ficção e obras técnicas. Ministramos a “Oficina do livro” no Solar do Rosário – Curitiba- desde 1999 . Nosso objetivo foi e é, auxiliar aqueles que desejam escrever livros. Tivemos a sorte de publicar alguns livros. Que satisfação pessoal se experimenta quando os originais são aceitos e o livro é editado! “É como ter um filho” fala a maioria dos escritores.

Muitas pessoas já participaram da “Oficina do Livro”. Alguns me ligam para contar-me que estão entusiasmadas que escrevem melhor. Outros ligam para dizer que estão um pouco assustados pois se tornaram leitores críticos e reconhecem rapidamente os erros de estilo que um autor comete. Leitor crítico é um bom sinal! Houveram flores e espinhos. Há três ou quatro anos, em uma das aulas, um aluno reclamou: “Só recebi pinceladas”. E é verdade. Sentimos medo. Muito medo de criar parâmetros rígidos que inibam a livre manifestação do autor. Por isso só damos “pinceladas” ou seja, traços gerais para que cada um possa aplicar o conhecimento de acordo com seu próprio estilo.

O verdadeiro trabalho é ajudar o iniciante a encontrar o próprio estilo. Orientadores só podem assinalar o caminho. Cada um percorrerá a própria estrada. Sozinho. Sem muletas. Guiado pelo instinto. Está longe de nossa vontade criar um modelo para que possa ser seguido, em todos os seus pontos, como uma obra religiosa. Um escritor padronizado mata a criatividade. Queremos que o espírito permaneça livre. Sempre. Só podemos auxiliar com explicações gerais. “Caminante no hay camino se hace camino al andar”, falou com sabedoria o poeta espanhol.

Nas próximas aulas vamos esclarecer como delinear os personagens, fazer uma cena-chave, uma boa descrição, um enredo interessante, um desenlace inesperado. Como utilizar esse conhecimento? Isso dependerá de cada pessoa. Só podemos dar sugestões: não usar adjetivos em excesso, cuidado com o gerúndio. Procurar palavras fortes. Cortar o supérfluo. Buscar cenários interessantes. Leia com atenção cada matéria, utilize “as dicas” e verá que a arte de escrever não é bicho de sete cabeças.

Na próxima iniciaremos com estudos sobre o Conto. Se tiverem dúvidas favor escrever para esta coluna. SUGESTÃO DE EXERCÍCIO: Escreva uma história sobre algum acontecimento embaraçoso. Exemplo: aquele dia que o pai foi ao trabalho com sapatos pretos, mas de estilos diferentes. Ou quando você fez uma caminhada no parque, guarda-chuva na mão, e saiu um sol escaldante. Crie uma história. Tente prender a atenção do leitor. Depois leia para familiares e amigos. Escute com atenção as críticas.

Isabel Furini é autora de "O Livro do Escritor", editora Instituto Memória, Curitiba.

terça-feira, 25 de março de 2008

CRÔNICA "O ESCRITOR" por Isabel Furini

O ESCRITOR Ernesto mudou-se do centro da cidade para o bairro de Bacacheri, perto do parque. Precisava de silêncio para escrever sua obra fundamental. Renovarei as letras, falava com seus botões. Nessa manhã de sábado estava sentado diante do computador. Escrevia o primeiro parágrafo de seu novo romance. Que nome daria à sua personagem? Teria que iniciar com A para demonstrar que o enredo partia de uma ação realizada pela protagonista. Ana seria um bom nome? Não! Curto demais. Anastásia? Não! Poderia ser confundido com a história da nobre russa desaparecida. Anacleta... não... não... Albertina? Isso mesmo! Albertina! Albertina foi o nome escolhido por Proust para sua personagem feminina. Por que não? Ao final, meu livro tem uma marcante influência proustiana, concluiu. Uma vez escolhido o nome da protagonista, o escritor inicia o primeiro parágrafo. Tem que ser visceral, pensou. Dilacerante! “No quarto escuro, Albertina apalpa as paredes. Onde estará o espelho de luz? Um reflexo luminoso no chão. A luz entrava por baixo da porta. Do outro lado, vozes e risos. Uma festa? Não lembrava...” Não lembrava... eu escrevi não lembrava mas ficou feio. Tenho que achar outra frase. Vejamos. Uma festa? Albertina estava confusa... Que porcaria... não era isso, não. O que escrever depois da pergunta: uma festa? Imagens rápidas... Não, rápidas não!.. Imagens entrecortadas. Isso ficou bom: imagens entrecortadas acudiam velozes. Que diabos estou escrevendo? Imagens não acodem... imagens... imagens aparecem? Surgem? Nada disso. Ernesto deleta as frases e volta àquela pergunta: Uma festa? Ele tentou escrever esse parágrafo durante horas a fio. O sol caía no horizonte quando Ernesto, desesperado, olhou o céu azul profundo com matizes vermelhos. Olhou o monitor. Não havia conseguido terminar o primeiro parágrafo. Nem o retrato de Proust, colocado na estante lhe havia servido de inspiração. – Se não posso ser igual a Proust, para que viver? – perguntou-se. Sempre olhando o céu, encaminhou-se à janela. E trêmulo e corajoso ao mesmo tempo, gritou: – Márcia, coloque no meu epitáfio: Foi um bom escritor. A esposa correu até o quarto, mas era tarde demais. Chegou no momento em que Ernesto, de olhos fechados, jogava-se pela janela. Machucou o braço e as costas. Tentou sentar-se na grama, enquanto Márcia, colocando a cabeça para fora da janela, gritava: – Ernesto, o que tentou fazer? Você esqueceu que agora moramos no térreo?
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