quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Entre rosas de palavras





Quantas rosas de palavras
na boca estão encerradas?

Poderosas palavras – tiranas
estão sempre dependuradas
no varal das emoções
e dançam entre os dentes
de maneira impertinente
dando vida aos poemas
que são arrastados pelo vento do destino

os poemas avançam
arranham as emoções e cativam os leitores
e serpenteando entre as rosas
despertam os antigos amores
que dormem entre teias de aranhas.

Isabel Furini



segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

A pequena sucuri - Poema infantil de Isabel Furini


Pelo caminho
andava um jabutí,
ele desejava
comer um abacaxi.

Perto dele voava
um bem-te-vi.
Essa linda ave
tinha medo de saguis.

De repente, eles viram
uma pequena sucuri.

A sucuri falou
com voz amável:
- Vamos brincar
de esconde-esconde?

O jabuti assustado
entrou na sua casinha
e o bem-te-vi
não deu nem um piado.

O bem-te-vi percebeu
que que ele sentia
muito medo de saguis
e de sucuris.

Triste falou a sucuri:
- Quando a gente
tem fama de malandra
todos olham com recio
e sentem medo,
ainda que você
não faça nada.

O jabuti ouviu
e muita vergonha sentiu.
- Vamos brincar, sucurí.
Disse em voz alta o jabuti.
E a sucuri ficou muito feliz.

Isabel Furini

Arte digital de Isabel Furini

Um anjo de bicibleta - Poema de Isabel Furini


Tive um sonho... era Natal
e um anjo de bicicleta
andava pelas ruas
tocando uma sineta
e distribuindo brinquedos
doces  e esperança

os pássaros e as borboletas
voavam em câmara lenta
perto do assistente social
(rapidamente passava
a areia pela ampulheta)

ele foi assassinado
mas os anjos o chamaram
por isso todos os anos
quando se aproxima o Natal
sorri entre as nuvens
um anjo de bicicleta.

Isabel Furini

O pranto dos relógios - de Isabel Furini




O PRANTO DOS RELÓGIOS

as guelras do tempo respiram
e transpiram infinitos sonhos
e os relógios moles
em seu descontrole derrem e choram
choram as tristezas de todos os homens.

Isabel Furini

Meus impulsos (Poema de Isabel Furini)




MEUS IMPULSOS

nos versos
é onde me invento
ergo-me do abatimento
construo
e reconstruo minha imagm
impulsiono meus sonhos
e faço locuras
e refaço as loucuras-aventuras
pois o meu desejo
é voar sobre as águas e sobre a areia
e ter um coração resistente como o aço.

Isabel Furini

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

A Vida II


A vida é jogo
e exige
refletir com liberdade
e deixar de lado as picuinhas

porque passam as modinhas
e ficamos sozinhos
sob a sombrinha
dos nossos pensamentos

o ser humano primeiro engatinha
depois caminha
e por último aprende
que a vida é jogo da amarelhinha.

Isabel Furini


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Como Escrever um Livro - Oficina de Isabel Furini

COMO ESCREVER UM LIVRO?

Técnicas e orientações para escrever e publicar um livro

Curso intensivo de 3 aulas:
12, 13 e 14 de fevereiro
Horário: das 14:30 às 17 horas

Local: Rua XV de Novembro, 266, 9º andar, Centro, Curitiba
Centro Cultural Gabriela Valentina
Informações pelo telefone (41)    (41) (41) 3222-4539
ou pelo e-mail: isabelfurini@hotmail.com

Ministrante: Escritora Isabel Furini


O curso é especial para iniciantes na área - todas as pessoas que desejam escrever as histórias escondidas na mente. Aos que desejam explorar a escrita e conhecer técnicas para escrever um livro.


METODOLOGIA 

. Estudos.
. Leitura, análise e discussão de crônicas
. Exercícios de escrita.
. Leitura dos textos escritos na oficina.


PROGRAMA

I.- a) Estudos: Gêneros literários. O escritor como receptor e emissor. O baú da mente. Como explorar palavras, situações e imagens para aumentar a criatividade.
b) Leitura de um texto de autor consagrado com análise e debate.
c) Exercício: escrever a partir de imagens.
d) Leitura dos textos escritos na oficina.

II.a) Estudos: Ponto de vista. Construção de personagens: retratos, ações e diálogos. Os meandros do tempo e do espaço no conto e no romance.
b) Leitura de uma página de um livro de um autor consagrado. Análise e debate.
c) Exercício: escrever um texto baseado em vivências.
d) Leitura dos trabalhos escritos na oficina.


III. a) Estudos: Como tornar o texto fluente, divertido e questionador. Recursos. A mensagem. Modalidades. A Literatura como espelho do mundo.
b) Leitura de uma página de um livro de autor consagrado. Análise e debate.
c) Exercício: escrever baseado em lembranças.
d) Leitura dos textos escritos na oficina.

Professora: ISABEL FURINI

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Proteção (Poema de Isabel Furini)


PROTEÇÃO

no subsolo dos afetos
existe um espaço narcisista
dedicado ao príncipe das ilusões
e quando a vida nos fere
com seus fortíssimos ferrões
nossa parte narcisista
(como mãe protetora)
eclode em autoelogios
para elevar a autoconfiança
e alterar o vulcão das paixões
o ser humano tem lava escondida
nos interstícios das emoções.

Isabel Furini

 



segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Incandescente - poesia de Isabel Furini


INCANDESCENTE

a Poesia não nasce do simples fato
de observar um anjo sobre o ombro
a Poesia pode nascer do grito abismal
do terror
do assombro
do desassombro
- a poesia não é só palavras
ela é construída no fundo da alma
e possui um coração afoito e espalha
magma incandescente em cada verso.

Isabel Furini
Quadro de Davi Faustino

Um caixão para Ruperto - Conto de Isabel Furini


Por Isabel Furini

Quando Ruperto, o erudito, morreu, havia nevado na parte norte da Itália e as crianças brincavam com neve nas ruas. Quando Ruperto morreu, algumas aves revoavam no céu, talvez aproveitando que a neve havia parado de cair. E nessa manhã, quando Ruperto, o erudito, morreu, nascia uma criança albina de um parto difícil, e uma moça, que estava catatônica há meses, levantou-se e começou a dançar, e uma menina triste, que perdera a mãe, depois de ficar no quarto durante muitas semanas, correu até a rua para brincar com a neve. E no mesmo horário em que Ruperto morreu, o padre Antônio viu uma luz expandir-se e afastar-se do lado de fora da igreja.

Padre Antônio, o pároco do povoado, fora chamado na noite anterior para dar a extrema unção ao Ruperto. Encontrou o moribundo pálido e suado, apesar do frio. A boca muito aberta tentando respirar. Faltava-lhe o ar e ainda assim sua mão direita segurava um lápis pequeno, e a esquerda apertava a borda do livro que tentara terminar durante toda a sua vida. Ele não conseguiu a chave para sair do dicionário perfeito. Como é de costume, os dicionários vão avançando de um verbete a outro verbete, que comente de maneira mais exata o tema estudado.

– Faltou uma palavra, padre, só uma palavra... – disse o moribundo.

O padre pegou o lápis da mão de Ruperto e, ao tentar tirar o livro, o moribundo tentou levantar a cabeça, sem voz e com um olhar de desespero, apertou fortemente o enorme caderno. A obra de sua vida, a obra inacabada. Uma idosa chorava de seu lado.

Ruperto não tinha parentes, mas a vizinha gostava dele apesar de ter fama de louco. Era um homem pacífico. Um estudioso. Alguém que dedica sua vida a escrever um livro, só um livro, não pode ser má pessoa. Só os loucos aferram-se às coisas como se tivessem o poder de perpetuar a existência. Ruperto aferrou-se ao seu dicionário quando sua esposa morreu, passava o tempo lendo e escrevendo, e sua vida foi tomando forma graças a ele. Mas antes de morrer, entendeu que havia fracassado. Fracassado. Bem lhe dissera, há vinte anos, a duquesa Maria Paola, que era impossível terminar uma obra dessas. Era contra Deus fazer um manuscrito em que cada palavra era explicada por outra e essa por outra e essa por outra até por fim voltar à primeira. Voltar? Tentar voltar, porque Ruperto fracassou e não conseguiu voltar à primeira palavra.

O padre, impressionado com a teimosia e o trabalho de Ruperto, decidiu fazer uma pequena homenagem: um caixão redondo.
– Por que, padre? – perguntou curioso Giuseppe, o carpinteiro.
– É para Ruperto continuar sua obra no céu. – respondeu o padre. Ele tentou criar um dicionário em que cada palavra remitia a outros verbetes e desejava que os verbetes esclarecessem uns aos outros, até voltar à primeira palavra. Um círculo aparente. Mas não... – disse o padre, coçando o bigode. Na realidade era uma espiral!
Ao dizer isso, o padre Antônio pensou que o caixão redondo não seria representativo de Ruperto e decidiu pedir para o carpinteiro fazer um caixão em espiral.
– Um caixão espiral? – o pobre homem olhou-o com os olhos enormes. Pela primeira vez em anos abriu os olhos em toda a sua plenitude, pois, acostumado com os mortos, trabalhava a madeira dos caixões com os olhos quase fechados.

– Um caixão espiral? – perguntou novamente.

Em anos de profissão, havia escutado solicitações estranhas e sempre havia obedecido, como a do conde Francesco, que pediu para enterrar o pai em um caixão branco por fora e azul com estrelas prateadas pintadas por dentro, para que se lembrasse do caminho do céu. E aquela senhora que vivia perto rio, depois da ponte, qual era seu nome? Esqueceu, mas se lembrava dos olhos azuis e das lágrimas quando ela solicitou um caixão com a imagem de Santa Lúcia na tampa para a sua irmã. E aquela mulher de mais de 80 anos, que fora abandonada antes do casamento pelo noivo e se manteve virgem, antes de morrer, solicitou um desenho da genitália masculina no lado de dentro da tampa, para ter em morte o que não havia conseguido em vida. Eram tantas as lembranças... Mas um caixão espiral? Nunca ninguém havia solicitado!

Giuseppe estava confuso. Seu tio fazia caixões e lhe havia ensinado a arte. Giuseppe abraçou a profissão de uma maneira quase mística. Achava que era um dever e uma missão dada por Deus. Por isso nunca ficava zangado quando a família de sua esposa zombava dele. Sua esposa queria que ele trabalhasse com seu irmão vendendo frutas no mercado, pois se sentia constrangida de dizer que o trabalho de seu marido era fazer caixões. Mas Giuseppe amava seu trabalho e não cedia às reclamações da esposa. Ele sempre obedecia às solicitações realizadas pelos clientes.
Giuseppe sempre fazia dois moldes, o primeiro para o caixão e outro para a tampa. Ambos de tamanho real. Tinha muito cuidado com os painéis laterais, pois deviam encaixar perfeitamente para serem presos às bordas da base. A medida da tampa precisava ser correta, especialmente a medida dos ângulos, para o ajuste perfeito da tampa, poucos sabiam disso, mas ele escutara alguém dizer ao seu tio que os segredos de um bom caixão são o tipo de madeira usado, os entalhes e o encaixe correto da tampa. Um encaixe torto prejudica o caixão, ainda mais os construídos com madeira nobre. Giuseppe era cuidadoso e o caixão sempre saía de acordo com o molde. Ele observava se todas as partes estavam corretas antes de prender os painéis laterais na base e entre eles. A borda inferior de cada painel deveria estar bem encaixada à base, e a tampa, ajustada corretamente.

Fotografia de Isabel Furini - Museu Rosacruz de San José, Califórnia.

Pela primeira vez, Giuseppe não sabia como construir um caixão! Como era um homem honesto, falou:
– Padre Antônio, eu nunca fiz um caixão espiral.

O Padre decidiu pedir ajuda. Reuniram-se então no salão nobre da prefeitura os homens mais inteligentes e todos os que trabalhavam com madeira: marceneiros, carpinteiros, agentes funerários, engenheiros, professores, administradores, decoradores e o próprio prefeito, que estava cansado da administração da cidade e só pensava na próxima viagem a Veneza – Veneza, local de belas mulheres.
O alvoroço produzido no povoado pela forma do caixão foi tal que até as carpideiras deixaram de chorar e começaram a discutir sobre maneiras de fazer um caixão espiral.

– Espiral ou espiralado? – perguntou um marceneiro. – Eu faço formas espiraladas desenhadas na madeira.

Todos respiraram aliviados. O agente funerário ordenou fazer um caixão comum, e com uma faca gravaram imagens de espirais.
Giuseppe continuava desenhando espirais em uma folha.

– Não foi isso o que pedi. – disse o padre Antônio com autoridade. – Eu quero um caixão com forma de espiral.

Novamente começaram as discussões em busca de uma solução. Como fazer um caixão de forma espiral? Espiral dá voltas sobre si mesma. Espiral é um quase círculo que se abre para dar origem a outro quase círculo, que se abre para dar origem a outro quase círculo, que se abre para...
– É impossível fazer um caixão desses! – disse o marceneiro.
– Silêncio! – gritou Giuseppe. – Se ele quer um caixão espiral, terá um caixão espiral.
– Forte o suficiente para suportar o peso do Ruperto? – perguntou o padre.
– Será forte o suficiente. – prometeu o carpinteiro.

E ele mesmo pegou uma madeira de três metros por três e desenhou uma espiral. A espiral começava no centro e girava para a direita. Cada traço afastava-se do centro e crescia em direção ao exterior, como uma fuga premeditada, como o centro de uma galáxia, que se estendia para chegar aos confins de si mesma.

– Padre, o senhor quer uma Via Láctea! – exclamou Giuseppe, que gostava de observar e estudar as estrelas.

E seu lápis tornou-se um instrumento sagrado. E todos fizeram silêncio. O padre Antônio disse que a Via Láctea é uma espiral gigantesca, como o dicionário de Ruperto, que talvez não estivesse brincando com as palavras, mas tentando chegar à palavra primordial que deu origem... origem ao universo! E seus olhos abriram-se tão grandes que pareciam duas fogueiras queimando numa noite escura.

Então Giuseppe, o carpinteiro, homem do povo, falou:
– Padre Antônio, podemos cortar a madeira e deixar um espaço entre as linhas. É isso o que deseja? Um espaço vazio?
– Um espaço vazio! – gritou o padre, que era um homem iluminado.

Um espaço... Era essa a solução. Sempre é necessário um vazio para que Deus possa preencher. Esse foi o mistério que Ruperto procurou durante toda a sua vida e morreu sem saber que, como falaram os pitagóricos, um ponto deu origem ao universo e que a origem das palavras, que deu origem aos verbetes circulares, não era outra palavra como pensava Ruperto, mas um silêncio. O silêncio primordial, o silêncio que antecedeu o Verbo.

Isabel Furini é escritora, professora e palestrante.
e-mail: isabelfurini@hotmail.com

domingo, 13 de janeiro de 2019

Traição??? (Crônica de Isabel Furini)


Ana e Juliano são invejados pelos amigos. Ambos são professores de literatura, amam livros, especialmente os romances escritos por grandes autores como Proust, Kafka,  Joyce. Ambos desprezam os livros de autoajuda.

- Livros superficiais. Não sei como as pessoas podem ler esses livros, sem qualidade literária - enfatizava Juliano.

O casal compartilhava leituras, teatro, ópera, concertos. De repente, Ana começou a passar os finais de semana com sua irmã.

– Passarei o sábado com  Geraldina, querido - disse ela com voz meiga.

Juliano suspeitou.  Geraldina sempre viajava no final de semana, pois tinha uma chácara na cidade de Araucária. Sorrateiro, ele falou com o seu amigo Daniel que trabalhava no UBER.

Sábado; quando Ana saiu, Juliano, que já havia combinado com Daniel, subiu ao carro e a seguiu a uma distância prudente. Ela pegou a estrada que leva à cidade de Araucária. Ela tem um amante, pensou Juliano, mas não disse nada. Ficaram em silêncio. Daniel acendeu um cigarro. Meia hora depois, ela estacionou o carro diante da chácara da irmã.

Juliano desceu do Uber e caminhou até a porta da chácara. Ana estava olhando-o com olhos esbugalhados.

Ela chorando disse: - Querido, eu não queria que você soubesse...   sinto muito. Vai ser horrível para você!

- Ana...

- Eu falei com minha irmã e ela me aconselhou a cometer traição. Sinto muito... foi para que você não sofra..

- Você tem um amante, Ana?

- Não, Juliano. Mas eu sei que você odeia... Você odeia mesmo. E eu gosto. Sinto muito mas eu  gosto muito de ler livros de autoajuda.

Fotografia de Isabel Furini

O cachorro de minha amiga (miniconto)


- Os cachorros merecem respeto - falou minha amiga. E  é verdade. Mas, e os humanos?
Há alguns anos Irene me convidou para almoçar. Entrei na casa e o cachorro - enorme -  começou a later. MInha amiga me aconselhou sentar-me à mesa e não me mexer, porque o cachorro era perigoso. Eu nem consegui comer porque estava com muito medo. Depois soube que não fui a única. Rosa e Betty passaram pela mesma situação. Resultado: Ninguém aceita almoçar na casa da Irene. Se ela gosta de ter o cão solto pela casa enquanto almoça com as amigas,  então que troque esse enorme cachorro por um Chihuahua.

Isabel Furini

Arte digital de Isabel Furini

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A costureira - Poema de Isabel Furini

                                                   (Poema paradidático para crianças - Recomendável a partir de 9 anos)

Trabalha para o conforto
e também para a elegancia.
Ser costureira é um dom,
e exige muita constância.

A costureira procura
fazer roupas adequadas,
para que cada pessoa
possa sentir que é valorizada.

Isabel Furini
(Do livro infantil: Profissões e Ilusões - Poemas e Canções)

Arte digital de Isabel Furini



Flores nos cantos


Flores nos cantos do jardim
e flores nos cantos dos olhos
a vida
apresenta alegrias
além de espinhos e abrolhos

somos o eterno Arlequim
que chora e ri sem moderação
pois o peso do coração - não é leve
é forte
e é opressivo

somente o brilho do amor
renova a nossa visão
e proporciona
a agradavel sensação
de que a vida não é espinho - é flor.

Isabel Furini

Quadro da artista plástica Katia Velo





segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Noite kafkiana (Poema de Isabel Furini)

Quadro de Carlos Zemek

Ninguém pensa, ninguém pensa
parou o vento
e caíram ao chão as abelhas mortas

noite de seres que não pensam - são pensados
a sabedoria está ausente
(o obscurantismo é passado ou é presente?)

noite de misantropia
refletida em muros de trevas e de medos
noite perigosa
cercada de palavras e de mentiras
noite kafkiana
de processos que não acabam
e de solidão que não é compartilhada

sem estrelas, sem perspectivas e sem vento
o ermitão
declara o fim dos tempos
e deitado sobre a areia do deserto
simplesmente murmura uma oração
e depois chora

pensamentos e emoções se confundem:
na garrafa de Klein
o exterior e o interior são uma só realidade
e na fita de Möbius
a humanidade escorrega no espaço-tempo.

Isabel Furini


sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O PASSARINHO AMIGÃO





- Bom dia,  dona Begônia.
Hoje você está formosa.
- Bom dia, passarinho.
Você está longe de seu ninho.

Respondeu o Cardeal:
- Eu decidi mudar o local do ninho.
Eu não gosto de estar sozinho,
Eu gostaria de ser o seu vizinho.

- Você quer ser minha amiga?
No almoço ou na hora do jantar
Eu posso comer as formigas,
Que gostam de incomodar.

Ficaram grandes amigos,
a Begônia e o Cardeal.
A Begônia sempre fala:
- Ter amigos é bem legal.

Isabel Furini

Imagem gerada pela IA do Bing



quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Koan 10 - de Isabel Furini


Koan 10

um poema dança
o outro fica quieto e mudo
(medita)
danço - mas permaneço estática.


Isabel Furini

Fotografia de Arriete Rangel de Abreu - SemeArte

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Os olhos da caveira - Poema de Isabel Furini


OS OLHOS DA CAVEIRA

uma antiga caveira protegida
por uma máscara de cobre
observava um morto que permanecia aflito
ele não havia encontrado o caminho do amor
nem havia conseguido superar o rancor
e só enxergava os monstros do passado

a caveira  emprestou os seus olhos
(cravejados de esmeraldas)
ao morto
para que ele desviara o olhar
dos acontecimentos do passado
e em vez de ver monstros
e ouvir os seus gritos
fosse capaz de enxergar o infinito.

Isabel Furini



Escultura de Jacob Foran -  Kirkland Arts Center - USA
Fotografia de Isabel Furini

Relógios e Fantasmas - Poema de Isabel Furini


RELÓGIOS E FANTASMAS

Trilhos escondidos
nos paralelepípedos do passado

o ontem é um terreno fértil
para lembranças
e para memórias imaginárias

no nevoeiro gritam os fantasmas
e dançam
entre as agulhas dos relógios

aconteceu ou sonhei? - pergunta
um idoso e o fantasma responde
- Viver é sonhar

sem sentir culpa
o idoso sonha
brinca com as ilusões
e reinventa o seu passado.

Isabel Furini

Foto e arte deIsabel Furini

As artimanhas do não - Poesia de Isabel Furini


ARTIMANHAS DO "NÃO”

É o furor do amor
prisioneiro entre palavras
reclamando a liberdade
(e ouvindo o ecoar de um “não”)

é a loucura - a dinamite da paixão que explode
e provoca
uma chuva inesperada
com a poeira de estrelas longínquas

são as “rosas descartadas” de Renoir
sonhando com uma mão amiga
que nunca chega

é a vida que muitas vezes fala “não”
marcando a alma com inúmeras feridas

Isabel Furini

Fotografia de Isabel Furini

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