segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Noite kafkiana (Poema de Isabel Furini)

Quadro de Carlos Zemek

Ninguém pensa, ninguém pensa
parou o vento
e caíram ao chão as abelhas mortas

noite de seres que não pensam - são pensados
a sabedoria está ausente
(o obscurantismo é passado ou é presente?)

noite de misantropia
refletida em muros de trevas e de medos
noite perigosa
cercada de palavras e de mentiras
noite kafkiana
de processos que não acabam
e de solidão que não é compartilhada

sem estrelas, sem perspectivas e sem vento
o ermitão
declara o fim dos tempos
e deitado sobre a areia do deserto
simplesmente murmura uma oração
e depois chora

pensamentos e emoções se confundem:
na garrafa de Klein
o exterior e o interior são uma só realidade
e na fita de Möbius
a humanidade escorrega no espaço-tempo.

Isabel Furini


Um comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...