segunda-feira, 26 de setembro de 2011

OFICINA COMO ESCREVER UM LIVRO DE CRÔNICAS

MÓDULO 1.

Serão analisadas as semelhanças e diferenças entre crônica e conto.
Assuntos que merecem uma crônica.
O gênero literário que revela o quotidiano.
A função do cronista.
Os segredos do gênero. O ritmo da escrita.

Duração duas semanas: terças, quintas e sextas-feiras.

Data: 18, 20, 21, 25, 27, 28 de outubro/11.

Horário: 18:30 as 20:30 horas.

Investimento: R$ 200,00.

As melhores crônicas farão parte de um livro.



domingo, 25 de setembro de 2011

O DIA EM QUE ME SENTI UM PERSONAGEM

Quando um livro é publicado de maneira clássica, ou seja, quando o autor envia seu texto a uma editora que “banca” a publicação e encarrega-se de conseguir diagramador, capista, de fazer a correção ortográfica e procurar uma boa gráfica, é comum o autor ganhar alguns livros para presentear a imprensa ou pessoas que sejam consideradas líderes de opinião.

Pois bem, isso aconteceu quando há mais de vinte anos foi publicado um livro infantil de minha autoria chamado “O Prego Nélio”.

Acontece que eu fui doando os exemplares que tinha até ficar sem nenhum. Irritada com meu próprio erro, fui até uma instituição que tinha um exemplar do livro para tirar fotocópias. Minha surpresa foi enorme quando escutei a secretária dizer: “Ninguém pode tirar fotocópias dos livros”.

Mostrei minha identidade e falei:
- Eu sou a autora do livro.
- Mas se fotocopiar o livro, isso seria plágio. - retrucou-me com muita seriedade.
- Eu sou a autora. Acaso irei plagiar o meu próprio livro? - perguntei um pouco confusa, sentindo-me um personagem que havia fugido de alguma crônica do Veríssimo.
- Não pode fotocopiar. - insistiu.
- Eu escrevi esse livro! - gritei.
- Mas o exemplar é nosso e não poderá fotocopiar.

Tive que me resignar e voltar para casa. Por sorte, uma antiga aluna que havia guardado um exemplar tirou fotocópia e teve a delicadeza de ficar com a mesma e presentear-me com o livro do qual sou autora. Mas isso despertou várias reflexões: a primeira sobre a necessidade de guardar um exemplar de qualquer obra de minha autoria; a segunda, de que muitas vezes o zelo administrativo leva a situações absurdas como a que eu havia vivido, e ficou em mim a sensação de que em algumas situações nossa humanidade parece perder-se no mar da ficção. Parecemos um personagem de crônica vivendo uma situação bizarra, e precisamos nos olhar no espelho para reconhecer quem realmente somos.

Crônica de Isabel Furini publicada no ICNews.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Escritoras falam de criação literária




Ontem, na Casa da cultura Polônia Brasil, em Curitiba, Adélia Woellner, poeta e escritora, Marilza Conceição, escritora de livors infantis, e eu, convidadas pela artista plástica Márcia Zséliga, falamos um pouco sobre criação literária. Presente, a lembrança de Helena Kolody de quem Adélia foi grande amiga, além de colega da Academia de Letras.

sábado, 17 de setembro de 2011

BELEZA NATURAL? (rsrsrsrsrsrs)

Escutei dizer que os homens não gostam de mulheres independentes demais. Logicamente, eles gostam que a mulher tenha uma renda que ajude no orçamento da casa, mas, ao mesmo tempo, sonham com o “eterno feminino”.

E o eterno feminino fala de mulheres suaves, amáveis, delicadas - quase gueixas. Mulheres belas. Naturalmente belas – sem artifícios. É possível encontrar mulheres belas, mas sem artifícios?.. Isso é uma raridade.






A história revela que as belas egípcias como Cleópatra banhavam-se em leite de cabra para manter a beleza da pele, e colocavam óleos no rosto para evitar o ressecamento produzido pelo sol do deserto. Os chamados “Papiros de Ebers”, além de orientações médicas, oferecem algumas orientações para retardar o envelhecimento. E até
Cleópatra seguia os conselhos para manter-se jovem.





Sophia Loren falou em uma entrevista que é preciso ter vocação para ser bela. Sim, vocação mesmo. É necessário escovar pacientemente o cabelo antes de dormir, para manter a vitalidade. Fazer ginástica todos os dias, para manter a boa forma. Limpar a pele do rosto diariamente.... e outras pequenas tarefas cotidianas que ajudam a realçar a beleza ou a manter-se jovem. Esfoliantes, hidratantes, e outros “antes” para depois não ficar choramingando porque a pele envelheceu cedo demais.

É assim mesmo, ser bela é um investimento. Exige longas horas no salão de beleza, muito dinheiro gasto em cremes. Com o passar do tempo será necessário laser ou botox... e o ideal de beleza poderá continuar. Artificiosamente natural.

Por isso, alguns homens podem continuar com seu sonho de beleza natural, mas as mulheres, ah!... essas sabem bem a verdade: Beleza não é moleza, gente, beleza não é moleza.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Carlinhos e Carlão

Aniversário de Alberto. Meu irmão, o Carlão, virá com alguma de suas loucuras. Já o presenteou com um vômito de plástico, com cocô... nem sei de que material, parecia de verdade. Deu copo com mosca, refrigerante que faz babar... O Alberto queria matá-lo, até que...

– A sociedade está perdendo os valores éticos. A sociedade de consumo, consumiu nossos valores! – gritou Alberto para finalizar o discurso. Os alunos aplaudiram. O diretor não gostou. Os pais deram queixa: o professor Alberto usava da retórica para colocar os filhos contra o sistema. Foi demitido.

Alberto era o único dos três irmãos que estudara. Meu sogro, ao morrer, deixou uma chácara para o mais velho, uma padaria para o filho do meio e, para o caçula, uma poupança para terminar os estudos. Alberto formou-se em História.

Nessa tarde quente de primavera, Alberto aproximou-se do prédio, cabisbaixo. Eu falava no hall de entrada com dona Rosa, a velhinha do 504. Elevador em manutenção. Nesse momento, a Ramona, enorme como uma montanha, com aquela obesidade mórbida que é impossível ocultar – 175 quilos, descia as escadas. Roupa clara, florida, esvoaçante, parecia uma barraca. .

– Meninas – grita desde a escada – voltei a nadar e estou adorando...
Parabenizamo-la pela iniciativa. Ramona caminha até o carro – o estacionamento fica na frente do prédio – entra atabalhoadamente e se afasta. Carlinhos, meu filho, parece entretido com seu aviãozinho de brinquedo.

– Você não vai acreditar, mas ela nada bem... – comentei.

– Estranho, verdade..

– Estranho, nada – disse Carlinhos parando a brincadeira – Estranho, nada, baleias nadam bem... todo mundo sabe. Olhou com os olhos arregalados pela surpresa. Dona Rosa, a senhora não sabia que as baleias nadam bem?

Dona Rosa soltou uma gargalhada. Nesse momento entrou o Alberto. Lúcia, preciso falar com você, disse com voz triste. Perdi o emprego, murmurou.

– Vamos comer bolo, Carlinhos?... Podemos subir devagar – disse dona Rosa para amenizar a situação.

A notícia se espalhou. A família toda entrou em desespero. Os tios de Alberto, meus pais, os irmãos de Alberto, minhas primas. Todos estavam revoltados. Falavam em processar a escola, em processar o diretor, os pais dos alunos, até em processar o porteiro da escola. Só o Carlão permanecia tranqüilo.

Ainda lembro quando falamos sobre o assunto. Foi numa tarde. O Carlão ia cuidar do Carlinhos porque eu precisava consultar o médico e Alberto tinha uma entrevista de emprego. Estava do lado de fora, esperando-o . O Carlinhos brincando com um carrinho entre as poltronas do hall. Duas senhoras idosas, idosas mesmo, falavam sobre doenças, ao lado da porta. Uma apoiou-se do lado direito, e a outra, do lado esquerdo da porta. Desculpa o atraso, mana, disse o Carlão e entrou correndo, passando entre elas sem cumprimentar. Uma das senhoras olhou para ele e gritou:

– Juventude sem educação, passou entre nós duas e nem disse boa tarde.
Carlão virou-se e irônico retrucou: – Desculpem, achei que as duas múmias faziam parte da decoração do prédio. Eu baixei a cabeça e caminhei até o carro. O Carlão e Carlinhos sempre me faziam ficar envergonhada.

– O que disse o médico? – perguntou o Carlão.

– Só estresse... – respondi quase chorando... É que se Alberto não consegue emprego... não sei... devemos R$15.000,00 ao banco.... vamos perder o apartamento... Carlão.... onde vamos morar?

– Podem morar comigo...

– Você mora numa quitinete...

– É verdade... não se preocupe, já vai surgir alguma solução.
Eu continuei preocupando-me. Às vezes, o Carlinhos, com seus cinco anos, aproximava-se de mim – Por que está tão triste, mãe? Eu não respondia... não sabia o que dizer.

Uma semana depois, à noite, o Carlão chegou acompanhado da Marilda, a namoradinha loira. Entregou-nos R$ 15.000,00 em notas de cinqüenta... Foi a maior agitação, lá em casa. O Carlinhos pulava do sofá, subia e pulava novamente. Alberto achava que o Carlão tinha roubado. Minha mãe gritava que o filho não era ladrão. Eu perguntava de onde ele havia tirado o dinheiro.

– Ele não roubou, não... ele é um gênio! -exclamou a Marilda e deu-lhe um beijão na boca... desses de tirar o fôlego.

No dia anterior, o Carlão tinha solicitado falar com Osvaldo, o chefe. Osvaldo era um quarentão arrogante e egocêntrico. Metido a besta, segundo os funcionários. Era namoradeiro, um play-boy e bom gourmet. Foi recebido pelo Osvaldo às dezesseis horas. Sala grande, luminosa, computador de última geração.

– Admiro o senhor e por isso, tenho que falar. Bom, não sei se devo contar isso ao senhor, talvez... é... melhor outro dia.... Virou-se e deu dois passos até a porta.

– Pode falar, rapaz! O Carlão explicou que o assunto era muito delicado. Não sei se devo, não sei se devo, repetia.

– Por favor, sente-se. Qual é o problema?

– Seu Osvaldo, eu sei que temos nossas opiniões, algumas diferenças... mas eu admiro muito o senhor, por isso acho que devo ser honesto. O pessoal está dizendo... está dizendo... que o senhor...
– Sim?

– Pinto pequeno. Estão dizendo que o senhor tem pinto pequeno.... Desculpe, senhor, mas é o que estão dizendo.

Os olhos de Osvaldo ficaram enormes, injetados de sangue. Ele, o play-boy, o garanhão.... Pinto pequeno, eu????

– Estou contando para ajudar. Em seu lugar eu... daria uma lição. Reuniria todos os homens, baixaria as calças e faria notar o tamanho de minha genitália.
Osvaldo ficou em silêncio, os punhos crispados, a garganta seca. Serviu-se de um café e ofereceu outro para Carlão.

– Isso! Isso! Vou dar uma lição no pessoal.

Osvaldo chamou a secretária e pediu para reunir todos os homens da empresa – 185, na parte livre do almoxarifado. Ele iria discursar.

Osvaldo, de pé sobre um palco improvisado, esbravejou:

– Sei que estão falando nas minhas costas... sei que estão me criticando, mentindo sobre o meu pinto. Dizendo.. dizendo que tenho pinto pequeno.

Carlão, na primeira fileira gritou: – Abaixe as calças! Abaixe as calças!

Osvaldo abaixou as calças e mostrou, com orgulho, como era um homem avantajado. De hoje em diante, quero ser chamado de Osvaldo, grande pinto! Gritou e retirou-se, feliz. Os funcionários iam saindo e cumprimentando o Carlão. Você ganhou... cara! Nunca pensei que realmente conseguisse fazer o chefe abaixar as calças diante dos funcionários.

Marilda contou rindo que o Carlão tinha feito uma aposta. Apostou que conseguiria fazer o chefe descer as calças. E conseguiu. Todos os 327 funcionários da empresa, entre homens e mulheres, todos apostaram. R$ 50,00 cada um. São R$ 15.000,00 para pagar o apartamento e um troquinho para mim... disse o Carlão.

O dono, seu Eufrásio, ao saber da brincadeira chamou o Carlão. Criatividade é o que precisamos nesta empresa, disse. O Carlão mudou de setor. Foi para o departamento de marketing e ganhou uma promoção.

– O que fará hoje teu irmão?- perguntou a prima de Lúcia, enquanto arrumava os brigadeiros.

– Alguma brincadeira... como sempre, agora é chefe da empresa, mas não mudou.

Soou a campainha. Os convidados estavam chegando com presentes para Alberto. Beijos, abraços, frases como: o Carlinhos é um amor, é muito fofinho... Onde está o aniversariante?

Carlão trouxe um presente para Alberto. É para festejar seu novo emprego na faculdade, falou. Um charuto fino, um cubano. Alberto acendeu. Explosão. Risos. Alberto foi lavar o rosto. Tinha ficado preto. Lúcia aproximou-se dele. Você não sabia que ele ia fazer isso? Sabia, Lúcia, eu sabia, mas depois de tudo o que fez por nós... decidi entrar na brincadeira.

domingo, 4 de setembro de 2011

SACI PERERÊ



SACI PERERÊ

[i]Menino engraçado o Saci Pererê,
ele é corajoso - não teme ninguém,
ele escova os dentes das piranhas
e os dentes dos jacarés,
às vezes ele ruge e outras vezes
ele canta - e quando ele ruge
as ovelhas espanta:
Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

O Saci desamarra os cavalos
quando uma uma jararaca se aproxima
e logo ele fortemente sibila
sssssssssssssssssssssssssssssssssss

O Saci Pererê só tem uma perna
ele tem cachimbo e um gorro vermelho,
gosta de cantar, gosta de dançar,
ele gosta de pescaria
e gosta de assobiar junto com o vento:
fffiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuuuuuuu


Poema de Isabel Furini
Ilustração de Marco Teixeira


sábado, 3 de setembro de 2011

ESCÂNDALO NO PRÉDIO (Crônica)

As mulheres do prédio estavam reunidas na recepção. Todas falando ao mesmo tempo. Esperavam a síndica. Ela chegou minutos depois. Calmamente perguntou qual era a causa daquela agitação toda.

- O primeiro andar tem um grande terraço... - disse dona Manoela.

- E sempre alguém está tomando sol nesse terraço! - enfatizou Vanessa, que estava sentada com a filha de dois anos no colo.

- Não tem nada de errado tomar sol no terraço. Isso não é proibido - disse a síndica.

- Conte, conte, dona Cidinha - incentivou-a Manoela.

- Mas hoje eu vi... Eu estava olhando pela janela, não estava espionando, não. Hoje eu estava olhando inocentemente pela janela quando vi... - dona Cidinha cobriu o rosto com as mãos e disse descendo a voz: - Vi um homem nu tomando sol no terraço do primeiro andar.

- Era seu Inácio? - perguntou Rosalba, uma antiga moradora.

- Aquele velho contador aposentado tomando sol nu no terraço? - perguntou a síndica.

- Que horror! - disse gritou Manoela.

- Não! Não era ele, não! Era esse sobrinho, esse jovem alto e moreno, parecido com o Rodrigo Santoro.

- Ahhhh! Uauuuu! E outras exclamações surgiram dos lábios das mulheres.

- Aquele rapaz estava tomando sol nu no terraço? Por favor, dona Cidinha, a próxima vez que isso acontecer, me chame imediatamente - disse a síndica - eu quero tirar algumas fotografias daquele gatão nudista!


Crônica de Isabel Furini publicada no ICNews.
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