segunda-feira, 23 de novembro de 2015

AMOR OU VANTAGENS?

Sempre achei estranho o relacionamento amoroso entre maturidade e juventude. Talvez com o tempo se imponha com força, e seja comum ouvir conversas como estas: “Estou desapontada. Meu namorado é mais velho que o namorado de minha mãe” ou “ A namorada de meu avô é mais jovem que eu”.

Não sei a opinião do leitor, nem sou totalmente contra, às vezes, dá certo. Conheço pessoalmente, no mínimo, dois casais nessa situação e são muito felizes. Se formos observadores veremos que geralmente – nem sempre, mas geralmente -,o mais velho tem estabilidade econômica; grande atrativo para os mais novos, desejosos de viajar, frequentar lugares chiques, comprar um carro importado...

Mas, você já refletiu sobre o passar dos anos? Aos 15, a gente veste roupa tamanho P, depois vai passando para o M, imediatamente vem o G, então é preciso o GG. Depois do GG, vem a cirurgia de estômago. Os anos nos deixam lentos para a ginástica, mas rápidos para o garfo. Parece que a gente vai se aperfeiçoando na arte do gourmet. Comida preenche o estômago e preenche o medo da solidão, medo do fracasso, medo do dentista... enfim, comida é um preenchimento natural de estados emotivos variados.

Tudo isso é para dizer que, por estar fora de forma, às vezes, imagino os alunos falando “gordinha” nas minhas costas, mas apesar de não ser rica - não conheço educador rico -, mesmo assim, eu fui almejada por um desses conquistadores de mulheres da maturidade.

Em março de 2006 ou 2007, eu estava concluindo a primeira aula da Oficina de Redação, quando se aproximou um jovem bonitão. Aproximadamente 25 anos, cabelo preto, brilhante, propositadamente despenteado, barba sem fazer, o que lhe acrescia um encanto extra, além de contrastar com suas roupas, camiseta vermelha e jeans de griffe. Com um sorriso de ator premiado em Hollywood, apresentou-se dizendo que queria escrever um livro e necessitava de orientações.

A conversa colou, porque amo falar sobre o tema, quando o rapaz lançou o anzol para ver se havia peixe no rio, não peixe-boi, mas peixe-burro: “Professora, o que acha de nos encontrarmos qualquer dia para tomar um drink e falar mais sobre o assunto?”.

Sua intenção ficou mais exposta que joelho de escoteiro. Era isso! Pensei. Ele quer consultoria literária de graça. Que gracinha!... Seu safado!... Sorri e falei: Claro, podemos sair, levarei meus filhos, que têm sua idade, assim poderão falar de futebol e de garotas... O sorriso amarelo do rapaz demonstrou que havia entendido o recado. Por um instante, os ombros desceram e pareceu abatido. Mas se recompôs imediatamente e se despediu com um sorriso lindo, um sorriso de dar inveja aos atores de Hollywood. Talvez o recado dele fosse: “Veja a beleza que perdeu, sua coroa”.

Eu saí da sala de aula cantarolando. Ao passar pelo corredor, olhei-me no espelho e pensei, eu sou uma coroa feliz, não posso evitar envelhecer, mas tenho a capacidade de manter o bom senso. É isso é muito bom mesmo!..

Isabel Florinda Furini é escritora e palestrante.





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