Eu tinha seis anos
e não sabia o que significava.
Meu pai chegou com o cinto da (in)justiça.
Por que ofendeu a mãe de sua amiga?
E bateu o chicote contra a parede.
Ofender uma mãe sem dizer a palavra mãe?
Pensei eu - estranha magia.
Eu nasci numa época mágica:
as crianças não germinavam no ventre materno,
as crianças chegavam voando - as cegonhas traziam os bebês.
Época ruim! Os irmãozinhos vinham voando e as palavras
se aprendiam a chicotadas.
Esse dia descobri um mundo paralelo: o mundo das palavras.
Desde então minha vida é um discurso sem silêncio.
Em sonhos meu pai ainda fustiga contra a parede
o cinto (des)educativo
e eu fico muda de terror.
Estudei e ensinei oratória - nas aulas sonhava salvar inocentes
do chicote de algum ignorante poderoso,
desses que gostam de abater os outros - impiedosamente.
Palavras nunca são inocentes, são arpões
que derrubam crianças.
Palavras, peças de artilharia letal para dilacerar vidas.
Palavras, barcos que navegam
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