Falam que a língua é incansável, dizem que a causa é por ela não ter ossos. Mas esse constante trabalho que algumas pessoas dão à língua, mover-se sem pausa ou mover-se e articular palavras em momentos inoportunos, sempre chamou a atenção dos filósofos, literatos e outros observadores do comportamento humano.
Atribui-se a Esopo, o fabulista grego, uma pequena história sobre um rei que solicita a seu conselheiro uma comida especial. Essa comida deve conter algo capaz de elevar o homem, de criar amigos, de cimentar a fraternidade, de levantar impérios. O conselheiro vai até a cozinha e solicita aos cozinheiros que sirvam para o rei um guisado de língua. Dias depois o rei chama novamente o conselheiro e, dessa vez, solicita o contrário. Ele quer uma comida composta de um elemento capaz de destruir amizades e famílias, capaz de derrubar impérios. O conselheiro vai até a cozinha e solicita aos cozinheiros que sirvam ao rei um guisado de língua. Pouco se sabe sobre a vida de Esopo.
Viveu no século VI A.C., e conta-se que ele teria sido condenado à morte depois de uma falsa acusação de sacrilégio. A palavra falsa teria causado a sua morte. Não sabemos se é verdade, ou se é simplesmente um fato criado pela imaginação popular.
Mas isso ajuda a pensar sobre o poder das palavras! As palavras podem ofender ou elogiar, criticar ou apoiar. As palavras podem difamar ou enaltecer. Passar de boca em boca, guiadas pelas escuras intenções dos fofoqueiros. Pode defender o inocente.
Pode induzir à justiça ou à injustiça. As palavras podem despertar amor ou ódio, até podem matar. Algumas vezes, quando criança, eu cheguei a pensar que as palavras viviam em um mundo paralelo e pulavam para a Terra com alguma função: construir ou destruir. Por isso sempre admirei Esopo, que com uma simples fábula conseguiu destacar esse poder humano. E nossa civilização, que tanto valoriza a comunicação, talvez devesse refletir mais sobre o poder das palavras, seu alcance e seus efeitos.
Isabel Furini é escritora e palestrante, autora de “O Livro do Escritor” do Instituto Memória. Orientará as oficinas de romance, quintas-feiras, e de conto e crônica nas terças no horário da tarde. Maiores informações pelo fone (41) 3225-6232.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Crônica: A língua não tem ossos
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