A gadanha
Os anjos caídos cuspiram sombras
sobre a árvore de magnólia
refletida em um espelho de metal antigo
um movimento nas luzes projetadas pelo espelho
e os fantasmagóricos duendes do abismo abrem seus olhos
e riem
e eles atravessaram as paredes que separavam os séculos
e palavras antigas como "pandemia" e "fim do mundo"
renovaram-se com o poder das sombras
e voltaram a habitar os lábios e estremeceram
gargantas e corações
alguns verbos como viajar tornaram-se proibidos
mas outros verbos como amar e acreditar
foram colocados aos pés do trono de Cronos
e Cronos (matreiro) ergueu a gadanha
e cortou cabeças e triturou pescoços
e ficou sozinho como aquele pedaço de pão velho
que permanece esquecido em um banco de madeira de uma praça
onde alguns mendigos (cansados da vida) matam as horas
enquanto esperam serem mortos pela gadanha impiedosa de Cronos.
Isabel Furini
Esse poema foi publicado na revista Kametza, de Lima, Peru, em Setembro/2021.
"Anjo Caído" de Salvador Dalí |
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