quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ESCRITOR NÃO TEM NADA PARA FAZER NAVIDA?


Há pouco tempo, estava saindo de uma aula, quando uma pessoa aproximou-se e disse: “Você é escritora porque não tem nada para fazer na vida, eu tenho muitas coisas para fazer... não tenho tempo para escrever”.  Olhei-a, se essa frase tivesse sido pronunciada por um estressado executivo paulista teria sentido, mas não, ela é aposentada.

E escritor é escritor por opção ou porque não tem nada para fazer da vida? Será que escritor não tem outras atividades para ocupar o seu tempo?  Bom, no meu caso, além de escrever livros, oriento Oficinas para futuros escritores no Solar do Rosário e em outros locais, e não é só ministrar a aula, é preciso preparar o material para cada aula é isso leva tempo. Todos os professores têm o mesmo problema, preparar aulas e corrigir os textos dos alunos exige tempo.

Entre outras atividades, eu mantenho esta coluna semanal no ICNews.  E para resenhar um livro, primeiro é necessário lê-lo. Pode até ser uma leitura rápida, mas é preciso conhecer o livro. Também ministro palestras. Não são muitas, mas exigem um trabalho especial.  Faço leitura crítica, ou seja, eu leio, analiso e faço a crítica de originais. Geralmente são os novos escritores que enviam suas obras para que eu possa dar orientações. 

Em síntese, para uma pessoa que é escritora “porque não tem nada para fazer na vida”, eu considero que realizo bastantes atividades.  Como disse minha amiga Helena, é bom gritar: “Oh, como estou cansada!  Fiz a leitura crítica de um livro enorme”. Ou “Hoje demorei a manhã inteirinha resenhando um livro, essa coluna dá muito trabalho!”. 

É, talvez essa seja uma boa opção falar do que faço para que as pessoas vejam que escrever livros não é tarefa para desocupados nem para vagabundos.

Nos anos 90, tive a honra de visitar várias vezes Helena Kolody. Lembro-me que uma vez ela disse: “Você é humilde demais, Isabel, e humildade demais prejudica”. Maravilhosa Helena! Seu olhar sempre era certeiro. Quando escutei essa aposentada desprestigiar meu esforço e meu trabalho dizendo: “você é escritora porque não tem nada para fazer na vida”, eu percebi claramente que devia mudar minha atitude. Ao final até a galhinha sai cacarejando depois de botar um ovo, ou seja, até ela faz alarde para que reconheçam seu trabalho.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada, ministra a Oficina “Como Escrever um Livro” no Solar do Rosário, fone (41) 3225-6232.

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