Há pouco tempo, estava saindo de uma
aula, quando uma pessoa aproximou-se e disse: “Você é escritora porque não tem
nada para fazer na vida, eu tenho muitas coisas para fazer... não tenho tempo
para escrever”. Olhei-a, se essa frase
tivesse sido pronunciada por um estressado executivo paulista teria sentido,
mas não, ela é aposentada.
E escritor é escritor por opção ou
porque não tem nada para fazer da vida? Será que escritor não tem outras
atividades para ocupar o seu tempo? Bom, no meu caso, além de escrever livros, oriento
Oficinas para futuros escritores no Solar do Rosário e em outros locais, e não
é só ministrar a aula, é preciso preparar o material para cada aula é isso leva
tempo. Todos os professores têm o mesmo problema, preparar aulas e corrigir os
textos dos alunos exige tempo.
Entre
outras atividades, eu mantenho esta coluna semanal no ICNews. E para resenhar um livro, primeiro é
necessário lê-lo. Pode até ser uma leitura rápida, mas é preciso conhecer o
livro. Também ministro palestras. Não são muitas, mas exigem um trabalho
especial. Faço leitura crítica, ou seja,
eu leio, analiso e faço a crítica de originais. Geralmente são os novos
escritores que enviam suas obras para que eu possa dar orientações.
Em síntese, para uma pessoa que é
escritora “porque não tem nada para fazer na vida”, eu considero que realizo
bastantes atividades. Como disse minha
amiga Helena, é bom gritar: “Oh, como estou cansada! Fiz a leitura crítica de um livro enorme”. Ou
“Hoje demorei a manhã inteirinha resenhando um livro, essa coluna dá muito
trabalho!”.
É, talvez essa seja uma boa opção
falar do que faço para que as pessoas vejam que escrever livros não é tarefa
para desocupados nem para vagabundos.
Nos anos 90, tive a honra de visitar várias
vezes Helena Kolody. Lembro-me que uma vez ela disse: “Você é humilde demais,
Isabel, e humildade demais prejudica”. Maravilhosa Helena! Seu olhar sempre era
certeiro. Quando escutei essa aposentada desprestigiar meu esforço e meu
trabalho dizendo: “você é escritora porque não tem nada para fazer na vida”, eu
percebi claramente que devia mudar minha atitude. Ao final até a galhinha sai
cacarejando depois de botar um ovo, ou seja, até ela faz alarde para que
reconheçam seu trabalho.
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