quarta-feira, 27 de julho de 2011

PALAVRAS DA ARTISTA E DA DIARISTA



Era uma reunião como tantas outras. Mulheres falando, homens grudados aos copos de cerveja, jovens falando de música e crianças correndo. Numa dessas conversas escutei alguém dizer a uma senhora idosa: “Somos um grupo de artistas plásticas que nos reunimos uma vez na semana, e algumas também escrevem poesia”. Gostei da ideia, fiz várias perguntas e ela respondia com entusiasmo. - Pintam pior do que macacos - disse o marido dela rindo. Ele é um piadista, esclareceu a mulher.

Na terça-feira fui até o atelier. Subi a escada e no primeiro andar vi várias portas fechadas. Qual seria? Perguntei a um rapaz que caminhava pelo corredor com uma carta na mão. - Não conheço artistas plásticas neste prédio, respondeu.

- Elas se reúnem só uma vez na semana.

- Ah! Você disse artistas? Artistas! Hahaha. É um grupo de velhas gagás. É na última porta, do lado direito.

Caminhei até o final do corredor, bati à porta e abriram, lá estavam as idosas. Desculpem, lá estavam as artistas plásticas. Nesse momento a frase do marido da Teresa, “pintam pior do que macacos”, não me pareceu uma piada, pareceu-me um simples comentário. E a declamação de poemas... Céus! Melhor nem falar. Olhei para a professora de pintura, tinha um sorriso de bonomia no rosto, como quem diz: fazer o quê? A professora disse que o importante na terceira idade é fazer algo para manter-se ativo, para manter-se jovem. Elas não eram artistas, mas se sentiam artistas.

Eu acho interessante a pessoa dedicar o seu tempo a praticar alguma arte. Mas penso que um pouco de humildade daria brilho a esses quadros, porque é muita pretensão falar “somos um grupo de artistas plásticas que se reúne uma vez na semana”, seria melhor dizer: somos um grupo de interessadas em arte, ou de aprendizes, ou de alunas de arte. Porque “artista”, essa palavra para mim (talvez seja só para mim) tem uma conotação de certo grau de domínio de alguma das artes, e os trabalhos eram de aprendizes. Essa é minha opinião. Mas como disse minha diarista “opinião é como bunda, cada um tem a sua”.

Crônica de Isabel Furini publicada no ICNews.

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