VERDADEIRA PÁSCOA
hora de libertar o coração
de espalhar água benta
sobre as cicatrizes
e cerzir
as profundas feridas
com o fio invisível
do perdão
Isabel Furini
VERDADEIRA PÁSCOA
hora de libertar o coração
de espalhar água benta
sobre as cicatrizes
e cerzir
as profundas feridas
com o fio invisível
do perdão
Isabel Furini
Poderoso passado
Sinto medo dos ecos do ontem
temo que esses ecos quebrem
a porta do presente
e o "agora" possa ser mastigado
(impiedosamente)
pelas fileiras de dentes
chamadas lembrança e obsessão
Isabel Furini
Ainda ...
Ainda tenho a memória do musgo
enrolada nos tornozelos do tempo
e nos dias cinzentos
a memória sucumbe ao silêncio
e se torna remota
e ressurgem as lembranças
das palavras que ouvia no berço
depois o destino adverso
espalhou tristezas
e caminei pela praia dos versos
e descobri a luz das estrelas e a voz do universo.
Isabel Furini
ANTONELLA
envelheceu a paixão
e ficou silenciosa como um muro
sentiu-se abandonada Antonela
e somatizou na pele
as chicotadas da indiferença
passou a habitar as cavernas do tédio
e das lembranças
as lembranças devoraram as distâncias
e permaneceram ancoradas
(caoticamente)
no quarto do fantasma
Antonela analisou as memórias de sua mente
e compreendeu
que o fantasma era ela.
Isabel Furini
Na minha casa havia gaiolas com canários.
Tinha aproximadamente 10 anos, quando fiz a pergunta: - Pai, por que os pássaros estão na gaiola? Podemos abrir as portinhas e deixar eles voar.
Meu pai respondeu: - Não! Eu gosto de acordar ouvindo o canto dos pássaros.
Fiquei em silêncio. Esse dia eu percebi que meu pai era egoísta.
Ouvir o canto (pranto) dos pássaros era prazeroso para ele... mas, e o sofrimento dos pássaros prisioneiros?
Isabel Furini
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Mãos
O destino foi cinzelado
nas palmas das mãos
açoitadas pelas emoções
e cobertas de aflições
nossas mãos calejadas
vão alterando o destino
e de noite, os violinos
musicam nossos naufrágios
Isabel Furini
O poema "Mãos" foi publicado no JP (Jornal Popular) de Cachoerinha do Sul, RS, em 20 de março de 2021.
Viagem poética
Viajei pelo mundo para observar
os poemas e a Poesia
percebi rumos fixos e travessias
vi grandes mentes que poetizavam
e cabeças de cobra que riam
mas foi nula a minha artimanha
pois a Poesia é paixão
mora na alma
e morde e arranha
os conceitos sustentados pela razão
Isabel Furini
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No silêncio
Atravessei
a Via Láctea
com a imaginação
enquanto
a minha alma
dormitava
no silêncio do amor.
Isabel Furini
Karma?
Nascemos… sonhamos e vivemos
suportando a pesada carga
de sermos seres precários
impermanentes
passageiros do tempo
onde se esconderão
as inquietas mãos
que estão escrevendo o meu destino?
Isabel Furini
Aristocracia
Chapéus exuberantes
fingem extinta beleza
e sem muita sutileza
e com pesada maquiagem
ficam diante do espelho
aprimorando a imagem
para que as fotografias
revelem digna postura
e alta aristocracia.
Isabel Furini
Humanos
Carregamos sobre os ombros
um mundo invisível
sobre o ombro direito
os sonhos
sobre o ombro esquerdo
o sorriso da morte
e na cabeça
a equação sonhos-morte
fazendo nós
no tecido do destino.
Isabel Furini
Poema sobre as águas
Navegar entre rosas de paixão
para escrever um hipnótico poema
capaz de rosnar
um poema-fênix
que nasça e renasça e possa
fortalecer as metáforas e a carcaça
e dançar sobre as águas rasas
e sobre as águas profundas da emoção
escrever um poema que morra de solidão
ou de uma picada de escorpião
e renasça entre as fendas do coração.
Isabel Furini
Sensível Lua
A luz da Lua Cheia
ressoa
em mares improváveis
choram as ondas
atingidas pelos dardos
da emoção
e a Lua
(sensível espelho)
desloca-se
de sua rotação sincronizada
com a Terra
para acariciar as ondas
e espalhar amor.
Isabel Furini
Filme de zumbis
O pequeno javali
Tinha medo de assistir
Um filme de zumbis.
Seu amigo, o bicho-preguiça,
Falou assim:
- Não tenha medo javali,
É meio engraçado
Esse filme de zumbis.
Um zumbi tinha olhos de vidro
E não tinha nariz.
E outro zumbi saiu do caminho
E caiu sobre plantas com espinhos.
E havia uma cotovia
(Que também era zumbi)
Quando tentava cantar
Só gritava: pipipipipippi
O javali assistiu no seu quarto
E antes de terminar o filme
Ele já estava com sono
E como estamos no outono
Ele foi até a cozinha
E fez um chá quente de hortelã
E um omelete com ovo.
Isabel Furini
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Impulso
um ser humano
subordinado
às trevas da tristeza
precisa restaurar
a geometria da palavra amor
só o amor
poderá preencher
o poço da solidão
e imprimir nos calcanhares
o impulso de renovação.
Isabel Furini
Lua Minguante
Alimenta-se a vaidade...
mas é passageira, precária
o prestígio é como a Lua
tem seus momentos, suas fases
às vezes fica em minguante
e a voz altissonante da arrogância
torna-se rouca e sufocante
nada resiste o passo do tempo
nem a sorte
pois o tempo é um movimento
que infalivelmente leva à morte.
Isabel Furini
A Caixa de Pandora
o Sol ilumina as almas
nas horas de pandemia
com olhos de sombra
a Constelação do Corvo
espreita o relógio
que observa as horas
nos espelhos côncavos
enquanto
empurrada pelo vento Norte
longe da caixa de Pandora
a esperança ziguezagueia
sobre o mar do medo.
Isabel Furini